Em Alta NotíciasConflitoseconomiaFutebolrelações internacionais

Converse com o Telinha

Telinha
Oi! Posso responder perguntas apenas com base nesta matéria. O que você quer saber?

Uma semana com menos redes sociais reduz sinais de ansiedade, depressão e insônia em jovens, diz estudo

Pesquisa nos EUA acompanhou 373 jovens por celular e questionários: detox opcional de 7 dias cortou tempo em apps e coincidiu com melhora em três sintomas; solidão não mudou.

Uma pausa de apenas uma semana no uso de redes sociais ou, ao menos, uma redução significativa do tempo gasto nessas plataformas foi associada à diminuição de sintomas de ansiedade, depressão e insônia em jovens adultos. A conclusão é de um estudo conduzido por pesquisadores ligados à Universidade Harvard e publicado na revista científica JAMA […]

Uma pausa de apenas uma semana no uso de redes sociais ou, ao menos, uma redução significativa do tempo gasto nessas plataformas foi associada à diminuição de sintomas de ansiedade, depressão e insônia em jovens adultos. A conclusão é de um estudo conduzido por pesquisadores ligados à Universidade Harvard e publicado na revista científica JAMA Network Open.

A pesquisa analisou dados de 373 jovens, com idades entre 18 e 24 anos, nos Estados Unidos. Durante o período de acompanhamento, os participantes tiveram o uso do celular monitorado e responderam a questionários padronizados de saúde mental. Os resultados indicam que um “detox digital” de sete dias pode trazer benefícios mensuráveis para parte desse público, ainda que os efeitos não sejam iguais para todos.

O que o estudo analisou

O trabalho foi liderado por John Torous, professor associado da Harvard Medical School e diretor de psiquiatria digital do Beth Israel Deaconess Medical Center. Ao longo de três semanas, os pesquisadores acompanharam os participantes em duas etapas: uma fase inicial de linha de base, com uso normal das redes sociais, e uma semana seguinte em que os jovens puderam optar por reduzir drasticamente o tempo em cinco aplicativos específicos — Facebook, Instagram, Snapchat, TikTok e X (antigo Twitter).

O acompanhamento combinou diferentes fontes de informação: dados objetivos extraídos das configurações do celular, sinais coletados por sensores (como padrões de uso de tela e tempo em casa) e escalas clínicas amplamente utilizadas, como o PHQ-9 (depressão), o GAD-7 (ansiedade) e o índice de insônia.

Resultados: menos sintomas, mas não para todos

Entre os participantes que reduziram o uso de redes sociais por sete dias, os pesquisadores observaram associações consistentes com a melhora de três indicadores de saúde mental. Em média, houve uma redução de 16,1% nos sintomas de ansiedade, 24,8% nos sintomas de depressão e 14,5% nos sintomas de insônia.

A solidão, por outro lado, não apresentou mudança significativa. Segundo os autores, esse resultado pode refletir o papel social que algumas plataformas exercem, funcionando como canais de contato e pertencimento, especialmente entre jovens adultos.

Os dados também indicam que os efeitos positivos não foram homogêneos. Algumas pessoas relataram melhoras mais expressivas, enquanto outras praticamente não perceberam mudanças. No artigo, os pesquisadores destacam que os benefícios foram mais pronunciados entre aqueles que já apresentavam sintomas depressivos mais intensos no início do estudo.

Menos redes sociais não significa menos celular

Um dos achados considerados “contraintuitivos” pelos autores é que reduzir o tempo nas redes sociais não levou, necessariamente, a uma diminuição do uso total do celular. Durante o detox, o tempo médio diário gasto em redes caiu de 1,9 hora para cerca de 0,5 hora. Ainda assim, o tempo total de uso do smartphone permaneceu praticamente estável.

Isso sugere que os participantes preencheram o período “livre” com outras atividades no próprio aparelho, como mensagens, vídeos, jogos ou navegação em outros aplicativos. Em entrevista ao Harvard Gazette, John Torous afirmou que esse resultado reforça a ideia de que médias podem esconder respostas individuais muito diferentes e que estratégias como o detox digital são, muitas vezes, instrumentos “grosseiros”, que talvez precisem ser adaptados a cada pessoa.

Uma relação complexa com as plataformas

Os pesquisadores ressaltam que a reação à redução das redes sociais depende de múltiplos fatores, incluindo o estado de saúde mental inicial, o tipo de conteúdo consumido e a forma como cada indivíduo se relaciona com essas plataformas. Para alguns, diminuir o uso pode aliviar comparações sociais, exposição a conteúdos negativos e estímulos constantes. Para outros, a redução pode ter pouco impacto ou até gerar sensação de isolamento.

Essa heterogeneidade ajuda a explicar por que não houve mudança significativa nos níveis de solidão, mesmo com a melhora em outros sintomas. Segundo os autores, isso reforça a ideia de que redes sociais não são, por si só, boas ou ruins, mas têm efeitos distintos conforme o contexto e o perfil do usuário.

Pontos fortes e limitações do estudo

Entre os pontos fortes da pesquisa estão o uso de dados mais objetivos sobre o comportamento digital, em vez de apenas autorrelatos, e a aplicação de escalas clínicas validadas. No entanto, os próprios autores reconhecem limitações importantes.

O detox foi voluntário, sem randomização, o que dificulta estabelecer uma relação causal direta. Além disso, a amostra foi pouco diversa, composta majoritariamente por universitárias e usuárias de iPhone. Outro ponto é a ausência de acompanhamento de longo prazo, o que impede afirmar por quanto tempo os efeitos positivos observados se mantêm após o fim da semana de redução.

O que é possível concluir

O estudo reforça a hipótese de que reduzir o uso de redes sociais pode beneficiar parte dos jovens adultos, especialmente aqueles com sintomas mais intensos de ansiedade ou depressão. No entanto, os resultados não sustentam a ideia de uma solução universal ou de uma regra simples do tipo “apague todos os aplicativos e pronto”.

Os próprios pesquisadores resumem a conclusão de forma cautelosa: reduzir o uso das redes por uma semana foi associado à melhora em três sintomas, mas a durabilidade desses efeitos e a melhor forma de aplicar essa estratégia ainda precisam de mais investigação.

Em outras palavras, o detox digital pode funcionar para alguns mas, como ocorre com a maioria das questões de saúde mental, os efeitos dependem de como a tecnologia é usada, do conteúdo consumido e das características de cada pessoa. Infelizmente, ainda não existe um botão único de “configurações” capaz de resolver isso.

Relacionados:

Comentários 0

Entre na conversa da comunidade

Os comentários não representam a opinião do Portal Tela; a responsabilidade é do autor da mensagem. Conecte-se para comentar

Veja Mais