A reinvenção das novelas na era digital

Nos últimos anos, a Globo, uma das principais produtoras de novelas do país, se vê perdendo cada vez mais espaço neste ramo. Entre 2023 e 2024, a emissora registrou queda de 22% na audiência do horário nobre, em decorrência de suas tramas. Outro dado preocupante para o veículo aponta que mais de 84% dos jovens que antes acompanhavam novelas na TV aberta passaram a preferir o streaming, ao invés de continuar o antigo ritual de se juntar em frente à televisão em um certo horário para assistir a um novo capítulo.

O que afastou o público mais jovem da TV aberta é justamente o principal desafio enfrentado pela emissora: os streamings. Com horários flexíveis — que permitem assistir quando e como quiser — e um formato mais alinhado ao consumo rápido, essas plataformas assumiram a dianteira, inclusive na produção de novelas. Um exemplo é Beleza Fatal, do Max, exibida exclusivamente no ambiente digital e bem-sucedida tanto no Brasil quanto no exterior.

As novelas nos streamings

Com a ascensão das plataformas de streaming e a queda da audiência da TV aberta em um de seus principais formatos, surge uma nova era das novelas, que tem como foco atender às novas demandas da sociedade que está caminhando contra o perfil comum das novelas.

O principal destaque dessa nova fase é a redução no número de capítulos, que deixa a trama mais rápida e também diminui o tamanho da novela — perfeito para uma geração que está cada vez mais necessitando de atenção de forma rápida, ao contrário do formato tradicional, mais lento. Junto disso vem também a liberdade criativa, mais ampla nas plataformas digitais, em contraste com as limitações impostas pela TV aberta e as normas das emissoras.

Apesar disso, muitos enxergam essa mudança como uma transição das novelas para o formato de série — mais comum nas plataformas de streaming e com características semelhantes. Nesse contexto, Silvio de Abreu, um dos grandes nomes da teledramaturgia e ajudante na produção de Beleza Fatal, diz o contrário. Segundo ele, a essência permanece a mesma, com “linguagem de novela, emoções mais viscerais, relacionamentos, segredos, quem é pai de quem”, apenas adaptada a um novo veículo.

Outro ponto importante nessa migração das novelas é o alcance internacional, agora facilitado pelas plataformas digitais. Diferente da TV aberta, esse novo formato permite que produções brasileiras cheguem com mais facilidade a outros países. É o caso da já mencionada Beleza Fatal, um dos principais exemplos desse novo mercado, que alcançou mais de 15 países desde o lançamento.

A reação da Globo

A Globo, por sua vez, busca diferentes formas de reconquistar seu público, inclusive por meio de seu serviço de streaming. No entanto, a plataforma ainda não apresenta o mesmo nível de inovação nas novelas que outras concorrentes do setor.

Um dos principais caminhos adotados foi adicionar no Globoplay, seu serviço de streaming, os episódios das novelas que vão ao ar na TV aberta, muitas vezes com capítulos antecipados para assinantes. A estratégia, no entanto, também é comum entre outras emissoras que possuem plataformas digitais, como forma de aproveitar ao máximo o conteúdo já produzido.

Na tentativa de recuperar a audiência de uma forma mais saudosista, a emissora também tem apostado em remakes de novelas antigas, como ocorreu com o sucesso Pantanal (2022), que buscou atrair quem já estava acostumado com o formato tradicional, em vez de focar nos jovens com propostas mais inovadoras. Mas a fórmula nem sempre funciona — Vale Tudo (2025), por exemplo, tem sido considerada um fracasso de audiência, apesar de seguir a mesma linha de reinterpretação de clássicos.

Com a revolução dos streamings acertando em cheio as novelas, quem mais sai ganhando é o público. Agora, o espectador pode aproveitar o melhor dos dois mundos — escolhendo como e quando assistir — e ainda acompanhar uma nova fase desse formato, que parece estar no caminho certo para novas inovações.