Esporte

25 de jul 2025

Os impactos das gestões financeiras no âmbito esportivo

Quando o extracampo molda os destinos dentro das quatro linhas.

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No futebol moderno, vencer não depende apenas da qualidade dentro de campo. Clubes que equilibram gastos e receitas colhem títulos e estabilidade, enquanto outros vivem crises e um afastamento cada vez maior do torcedor.

Um estudo feito por Caio Bombarda, analista financeiro e estudante de economia da PUC-SP, mostra como o dinheiro, e a forma como ele é gerenciado, é fundamental para o desempenho dos clubes.“O futebol se tornou uma indústria milionária, onde o que acontece no caixa reflete diretamente no placar”, afirma o autor.

Foram analisados três gigantes do futebol europeu que vivem momentos distintos: Bayern de Munique, da Alemanha; Manchester United, da Inglaterra; e o Barcelona, da Espanha.

Bayern de Munique – exemplo de equilíbrio

O terceiro maior campeão da Uefa Champions League é considerado um exemplo de sucesso esportivo alinhado a uma gestão financeira sólida e estratégica. O Bayern prioriza estabilidade de longo prazo, controle de custos e responsabilidade contábil, construindo uma hegemonia nacional e até internacional, sem comprometer o equilíbrio financeiro.

A estrutura do clube é dividida entre associação (75%) e sócios comerciais (25%), como Adidas, Audi e Allianz. Isso garante uma estabilidade entre o que é bom esportivamente e o que faz sentido nos negócios. Além disso, os sócios têm poder de voto e ajudam a manter o clube fiel aos seus valores.

Um dos “segredos” do Bayern é o controle da folha salarial. Por regra, os bávaros podem gastar até 55% da receita com salários. E mesmo com esse limite, os resultados esportivos seguem em alto nível. Um estudo de Jeddou (2024) mostra que, durante a pandemia, o Bayern foi o clube que sofreu o menor impacto nas receitas entre os participantes da Champions.

A instituição também conta com uma ótima infraestrutura. A Allianz Arena, um dos estádios mais modernos do mundo, é um pilar financeiro, tanto pelos Naming Rights, que reduzem a dependência de crédito bancário, quanto pela verba vinda de ingressos e eventos no estádio. Todo o capital que entra, é investido em melhorias no centro de treinamento, formação de atletas e equipe principal.

Essa formação, desde a primeira categoria até a profissional, é outro setor de grande investimento dos alemães. Craques como Thomas Müller, Kimmich e Schweinsteiger saíram de lá, o que reduz custos com contratações e ainda reforça a identidade do time.

A administração financeira do Bayern é tão referência, que o clube segue rígidas regras de controle financeiro, antes mesmo de existir o famoso “Fair Play Financeiro” da UEFA, mostrando que todo o sucesso não é sorte, é resultado de uma gestão responsável e bem planejada.

Manchester United – marca forte, mas nem sempre vencedora

Ao longo dos anos, o time inglês construiu uma marca global muito forte, o que permitiu diversificar suas fontes de receita, indo muito além dos resultados dentro de campo. Enquanto muitos clubes são dependentes de bons resultados esportivos para faturar, o United ganha dinheiro com patrocínios, venda de produtos licenciados, direitos de TV e parcerias com marcas, mantendo a estabilidade mesmo quando a temporada termina sem grandes conquistas.

Segundo especialistas, a gestão dos Red Devils é bem planejada, com análises detalhadas de riscos e estratégias financeiras baseadas em dados. Ademais, o marketing agressivo e de alcance global transforma o Manchester United em um dos clubes mais lucrativos do mundo.

Números mostram que o clube é eficiente em várias áreas, como lucro, controle de gastos e equilíbrio financeiro. Eles são rígidos com salários e despesas internas, o que ajuda a manter as finanças em ordem. Tudo isso permite o investimento no futuro sem se enrolar com dívidas.

Um dos grandes diferenciais do United é o investimento no relacionamento com os torcedores, especialmente no ambiente digital. Os ingleses também apostam em expandir sua marca em países emergentes e fechar parcerias com empresas de peso. Assim, o Manchester United garante um fluxo constante de dinheiro, mesmo quando o time não levanta taças. Isso dá mais liberdade para tomar decisões e continuar competitivo no mercado.

Essa estratégia foi posta à prova na pandemia da COVID-19. O United conseguiu manter as contas equilibradas. A razão? Uma base financeira sólida, construída com diversas fontes de renda.

Assim como o Bayern, o clube também se destacou por seguir, antes mesmo das regras, várias exigências do Fair Play Financeiro da UEFA. Isso mostra que o Manchester United antecipa tendências e reforça sua imagem de clube profissional e confiável.

Na hora de montar o elenco, o United aposta em contratações planejadas, sem exageros, mantendo o equilíbrio entre futebol e finanças. Também há investimento em infraestrutura de ponta e categorias de base, reforçando a ligação entre boa gestão e desempenho esportivo.

No fim das contas, o Manchester United prova que um clube bem administrado financeiramente tem tudo para se manter competitivo, estável e respeitado por muitos anos. Seu modelo mostra como é possível unir paixão pelo futebol com profissionalismo fora de campo

Barcelona – a conta uma hora chega

O Barcelona é um exemplo de como uma má gestão financeira pode abalar até os maiores clubes do mundo. Por anos, o time foi referência em formação de atletas e conquistas, mas gastos descontrolados, salários altos e contratações sem retorno colocaram o clube em crise. Enquanto a folha salarial crescia, a arrecadação não acompanhava, e a pandemia agravou ainda mais a situação.

Entre os principais erros estão os investimentos milionários em jogadores como Coutinho, Dembélé e Griezmann, que não renderam o esperado. O clube chegou a gastar 82% da sua receita bruta só com salários, ultrapassando o limite recomendado pela UEFA. A dívida passou de €1,3 bilhão, e o clube perdeu capacidade de competir com os rivais no mercado.

O caso mais marcante foi a saída de Lionel Messi, em 2021. Por causa das regras do Fair Play Financeiro, o Barcelona não conseguiu renovar com seu maior ídolo. A saída de Messi foi um baque não só esportivo, mas também financeiro, com queda de valor da marca e perda de receitas.

Para tentar se recuperar, o clube adotou medidas drásticas: vendeu direitos de transmissão futuros, reduziu salários, buscou novas parcerias comerciais, como o acordo com o Spotify, e passou a valorizar mais os jogadores da base. Ainda assim, a estrutura do clube, comandado por sócios, dificulta mudanças mais profundas e exige resultados rápidos.

O Barcelona mostra que não basta ter tradição e talento em campo. Sem organização fora dele, até um gigante pode se ver em apuros. É um lembrete de que gestão financeira responsável é essencial para garantir estabilidade e sucesso a longo prazo.

Comparação entre os três

Manchester United, Bayern de Munique e Barcelona têm modelos financeiros diferentes, apesar de serem clubes de elite.O United é uma empresa na bolsa, o Bayern usa um modelo híbrido associativo-empresarial, e o Barcelona mantém uma governança associativa tradicional.

O Manchester United tem alta receita (€720 mi em 2023), forte marca global e bons acordos comerciais, mas é criticado por priorizar lucro dos acionistas em vez de resultados esportivos.

O Bayern é exemplo de equilíbrio, com baixa dívida (<€100 mi), investimentos constantes na base e infraestrutura, margens operacionais acima de 15% e superávit mesmo durante a pandemia. Foi campeão da Champions neste período.

O Barcelona enfrentou crise grave, com dívida acima de €1,2 bi em 2021 e 82% da receita comprometida com salários. Decisões de curto prazo para agradar torcida comprometeram sua saúde financeira.

Em valor de marca, o United lidera (€1,3 bi), seguido do Bayern (€1,1 bi) e Barcelona (€980 mi). O Bayern tem torcedores fiéis e melhor governança, enquanto o United sofre interferência dos donos e o Barça luta para modernizar sua gestão.

O Bayern é o clube mais sustentável, com receita diversificada e foco no longo prazo. O United depende do desempenho esportivo para manter o valor, e o Barcelona é um alerta sobre os riscos da má gestão financeira.

A comparação entre os três deixa claro que não existe apenas um modelo certo, mas princípios inegociáveis: equilíbrio entre receitas e despesas, planejamento de longo prazo, investimento em ativos duradouros (como categorias de base e infraestrutura), e um olhar estratégico sobre o relacionamento com torcedores, parceiros e mercados emergentes.

No fim, o futebol moderno exige dos clubes o que se cobra de qualquer grande organização ou empresa: governança, transparência, inovação e visão. O torcedor quer vitórias e ídolos, mas cada vez mais dependerá da capacidade dos gestores em transformar paixão em projeto e emoção em estratégia. No jogo financeiro, só os que sabem administrar o extracampo têm chance de levantar troféus com regularidade e manter viva a conexão com sua história, seus valores e sua torcida.

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