Crime organizado e comércio online ampliam venda de agrotóxicos ilegais no Brasil

Nos últimos anos, o uso de agrotóxicos no Brasil tem gerado crescente preocupação, especialmente devido ao aumento da comercialização irregular desses produtos. Estima-se que 25% dos agrotóxicos no país sejam ilegais, com muitos sendo contrabandeados de países vizinhos. Em 2023, a Polícia Federal apreendeu 575 toneladas de agrotóxicos ilegais, um aumento de quase 180% em relação a 2022. As apreensões ocorrem principalmente em rodovias e durante fiscalizações em propriedades rurais.

O mercado ilegal é alimentado por uma cadeia que inclui contrabando, roubo de cargas e falsificação. Os preços mais baixos dos insumos ilegais atraem agricultores, especialmente em um cenário de alta do dólar, que encarece os produtos regulamentados. Substâncias como o paraquat, proibido no Brasil desde 2020 devido a riscos à saúde, são frequentemente encontradas no mercado paralelo, com o Paraguai sendo uma das principais fontes de entrada.

A situação chamou a atenção do crime organizado, que tem se especializado na logística de transporte desses produtos. Luciano Stremel Barros, presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), destaca que “não importa tanto o produto”, mas sim a capacidade das quadrilhas de movimentar mercadorias. Além dos riscos à saúde, o descarte inadequado de agrotóxicos ilegais representa uma grave ameaça ambiental.

A venda de agrotóxicos irregulares também é facilitada por plataformas online, onde produtos como o paraquat são oferecidos para entrega em todo o Brasil. Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCPI), critica a falta de ação das empresas em controlar esses conteúdos, sugerindo que o Brasil é visto como um “mercado marginal” por algumas plataformas. Propostas para uma legislação comum no Mercosul sobre substâncias permitidas visam combater essa disparidade, mas a implementação enfrenta desafios significativos.