17 de abr 2025

Quando o jornal trai o jornalismo
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Por atenção vale até heresia na Páscoa

A efeméride da Última Ceia é distorcida em artigo que questiona a traição de Judas, desafiando a narrativa bíblica tradicional.

"O Beijo de Judas", Viena, Áustria — Obra retrata o momento bíblico em que Judas Iscariotes trai Jesus com um beijo no Jardim do Getsêmani, ação que culmina na prisão de Cristo. Foto: Reprodução

"O Beijo de Judas", Viena, Áustria — Obra retrata o momento bíblico em que Judas Iscariotes trai Jesus com um beijo no Jardim do Getsêmani, ação que culmina na prisão de Cristo. Foto: Reprodução

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Boa parte do jornalismo se baseia no que chamamos de efemérides, na comemoração ou lembrança de datas importantes. Esta quinta-feira, 17, marca quase dois mil anos da Última Ceia de Jesus, quando foi traído e entregue por um de seus apóstolos, Judas Iscariotes, aos romanos. Foi o maior ato de traição da história, levou à prisão e crucificação de Jesus.

A história é contada nos quatro evangelhos canônicos da Bíblia, em Mateus, Marcos, Lucas e João, e esta é a efeméride do dia.

O que faz o grupo Folha (Folha de S.Paulo, UOL e seus colaboradores) com isso?

Oferece espaço premium para a distorção da traição mais icônica da humanidade como se verdade fosse ou pudesse ser.

Com o título de “Judas traiu Jesus ou Jesus traiu Judas?”, o sociólogo e pastor Valdinei Ferreira faz uma ginástica narrativa que incorpora a interpretação de um terceiro sobre a leitura de evangelho apócrifo – o sacerdote da Igreja Ortodoxa Jean-Yves Leloup sobre o “Evangelho de Judas", texto datado supostamente do século 4.

Neste, Judas justifica a ação de traição como se fosse um pedido de Jesus, para que o entregasse. Não satisfeitos com uma narrativa escrita mais de 300 anos depois do fato, o(s) autor(es) da declaração vai(ão) além e sugere(m) uma delirante inversão de papéis.

No caso, Judas teria cumprido o “pedido de Jesus” por ser zelote, força armada que combatia os romanos, e acreditava que resultaria na revelação de Cristo e contra-ataque aos algozes. Daí vem o alucinado título do artigo, como se a traição pudesse ter partido de Jesus e não o contrário.

Nem os evangelhos canônicos foram perdoados na sanha de interpretação distorcida, pois sobre Lucas 22.3, quando “Satanás entrou no coração de Judas”, pelo viés dos articulistas o significado não é literal, mas de entendimento de que o demônio é o que “se opõe a Deus” e, no caso em questão, teria sido consciente e atendimento de pedido.

Isso tudo lembra outra prática do jornalismo, quando baseado em estatística, de que “se bem torturados, os números podem entregar qualquer verdade que se queira".

Mas não consta e nunca constará em qualquer manual de boas práticas do jornalismo que a verdade pode ser torturada para se fazer valer um ponto. Com o agravante de se utilizar uma ferramenta como a efeméride para chamar a atenção para o conteúdo pelo viés distorcido. Sem falar do requinte de crueldade de sacrificar a História, com H maiúsculo.

Por Luiz Cesar Pimentel

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