- A ONU contratou a empresa Shorouk para proteger sua sede em Damasco e centros na Síria entre 2014 e 2024, com contratos somando pelo menos 11 milhões de dólares ao longo de dez anos.
- Documentos confidenciais revelam que a Shorouk era propriedade da Direção-Geral de Inteligência (DGI) síria, com transferências de lucros e pedidos de armas, além de uso de testa de ferro.
- Após a queda de Bashar al-Assad, a empresa mudou de nome e atualizou a marca, mantendo atuação sob o novo governo; a ONU afirma diligência e conformidade nos contratos.
- Entre 2022 e 2024, a ONU contratou a Shorouk em um contexto de alto risco, quando outras empresas de segurança sírias foram revogadas, restando opções como Shorouk e ProGuard.
- O caso integra o Damascus Dossier, conjunto de documentos que expõe vínculos entre a ONU, a Shorouk e o aparato de inteligência sírio, questionando limites da cooperação internacional em contextos de conflito.
Durante 2014 a 2024, a ONU contratou a empresa Shorouk para proteger sua sede e centros na Síria, em meio ao conflito, mantendo contratos que somaram cerca de 11 milhões de dólares. Documentos confidenciais indicam ligações da empresa com a DGI, braço de inteligência do regime de Assad.
Nova documentação aponta que Shorouk era de propriedade da DGI, com repasses de lucros e pedidos de aquisição de armamentos. Após a queda de Assad, a empresa mudou de nome e seguiu operando sob o novo governo, enquanto a ONU afirma ter conduzido diligência adequada.
Contexto
O Damascus Dossier, obtido pelo ICIJ e parceiros, revela que a Shorouk operava sob fachada de empresa de segurança e que a DGI recebia parte dos ganhos. Os dados coincidirem com registros já conhecidos de violações de direitos humanos associadas à DGI.
Entre 2014 e 2024, várias agências da ONU firmaram contratos com Shorouk, que atuava sob nomes diferentes. Segundo fontes oficiais, a ONU cumpriu processos de contratação com diligência reforçada na época, enfrentando um mercado restrito na Síria.
Desdobramentos
Em 2019, um memorando indica envio de 50 milhões de libras sirias pela Shorouk à DGI, com explicação de que os recursos provinham de participação societária na empresa. Em 2022, houve pedido de apoio para aquisição de armas, em tom que reforçava o papel da empresa como controlada pela DGI.
A ONU relata que, durante o processo de licitação de 2022, Assad restringiu licenças para várias empresas de segurança, deixando Shorouk e ProGuard como opções de alto risco. Mesmo assim, os contratos continuaram por oferecerem melhor relação custo-benefício.
Cenário atual
Após a queda de Assad em dezembro de 2024, a Shorouk não encerrou atividades. Mudou de nome e atualizou sua marca, incluindo a bandeira síria em seu logotipo. O novo governo afirmou ter auditado operações e considerado rumors sobre vínculos com o regime como falsos.
O UN reiterou que não identificou incidentes que indiquem vigilância de funcionários da ONU por Shorouk. Perguntas sobre a relação com entidades associadas à DGI permaneceram em aberto, com o Damascus Dossier alimentando o debate sobre cooperação internacional em contextos de conflito.