- Em 2025, a Amazônia teve queda do desmatamento, mas degradação e fragmentação persistem; COP30 foi realizado em Belém, com lançamento do Tropical Forest Forever Facility (TFFF) e adiamento da EUDR; EUA reduziram financiamento à conservação.
- Brasil registrou queda de cerca de 11% no corte raso em doze meses até julho, mas fogo e degradação já causaram danos anteriores; novas obras de infraestrutura, como a BR-319, e projetos de petróleo próximos à foz do Amazonas intensificaram pressões.
- Congo Basin viu aumento do desmatamento na parte central e leste, agravado por conflitos e pela expansão de mineração e produção de carvão; houve avanços limitados em concessões comunitárias e mecanismos de pagamento por serviços ambientais.
- Indonésia apresentou queda de desmatamento, cerca de 11% abaixo de 2023, mas incêndios e queimadas em áreas de concessionárias, ciclone Senyar e conflitos de uso da terra — com preocupações sobre direitos de povos originários.
- COP30 não entregou caminho vinculante contra o desmatamento; destacou financiamento florestal e o TFFF, ainda com captação inicial abaixo da meta anunciada, refletindo tensões entre financiamento, governança e resultados práticos.
Em 2025, as florestas tropicais enfrentaram pressões acumuladas, o desmatamento caiu em algumas áreas, mas degradação, fragmentação e fogo seguiram ameaçando ecossistemas. COP30 consolidou retórica sem compromissos vinculantes.
O ano mostrou que pulos no monitoramento e ações de enforcement podem frear o avanço da derrubada. No entanto, influências indiretas como clima extremo, tráfico de madeira e negociação de finanças moldaram os resultados nos hotspots florestais.
COP30 e nova arquitetura de financiamento
A cúpula, realizada em Belém, teve peso simbólico ao conectar a diplomacia climática com as florestas. O TFFF, um fundo proposto em torno de 125 bilhões de dólares, ganhou visibilidade, mas o capitalização inicial ficou abaixo do esperado. 1
O acordo manteve o ritmo da Diplomacia climática, sem decisões obrigatórias sobre desmatamento. Países indígenas estiveram presentes, mas com influência ainda limitada. A conversa avançou sobre adaptação, resiliência e financiamento, sem caminho definido para implementação.
Amazônia: queda do desmatamento, mas riscos persistem
No Brasil, dados oficiais apontaram queda de 11% no desmate anual até julho, o menor em 11 anos. A fiscalização reforçada e embargo a propriedades contribuíram para essa tendência. Ainda assim, a degradação e a fragmentação seguem preocupantes.
Desafios vêm de 2024, quando seca severa levou incêndios a responder por parcela significativa das perdas. Em 2025, o fogo recuou, mas as repercussões da degradação continuam, elevando vulnerabilidade a novos distúrbios e mudanças climáticas.
A atuação do governo federal incluiu uso de dados de satélite para bloquear áreas e restringir crédito rural. Operadores privados questionaram liberdades de mercado, enquanto o desfoque entre promessas e resultados persiste em outros países da bacia.
Congo Basin: conflito e pressão econômica sobre florestas
Na bacia do Congo, a área continua sob pressão. Em 2024, a perda primária atingiu novos recordes, impulsionada por agricultura de subsistência, carvão e mineração. Conflitos no leste fragilizam a aplicação de proteção ambiental e fiscalização.
Casos de mineração e exploração de petróleo dentro de áreas protegidas geraram debates sobre prioridades entre receitas públicas e proteção de ecossistemas. Comunidades locais receberam iniciativas de concessões florestais para pagamento por serviços.
A gestão de zonas abertas, conflitos e comércio ilegal moldaram o ritmo da degradação, enquanto projetos de restauração e participação comunitária surgiram como atenuação modesta aos impactos.
Indonesia: fogo, ciclone e vulnerabilidades estruturais
Em 2025, a Indonésia manteve queda de desmatamento, cerca de 11% menor que 2023. A preocupação ficou com queimadas em áreas industriais de turfeira, provocando fumaça que alcançou a região. O país enfrentou ciclone Senyar, com enchentes e deslizamentos.
As autoridades reconheceram falhas na gestão de florestas, associando parte dos danos à implantação de projetos de mineração, papel e palma. Concessões de níquel e hidrelétricas também geraram tensões com comunidades locais e povos indígenas.
A política pública reteve a meta de transformar florestas em sumidouro de carbono, com promessa de reconhecer territórios tradicionais, porém a implementação segue lenta e, por vezes, seletiva.
EUDR: atraso na implementação na União Europeia
A regulamentação antiforestal da UE manteve-se em processo de implementação. Em dezembro, o atraso na aplicação foi institucionalmente confirmado, com prazos prorrogados para grandes empresas até 2026 e até 2027 para microempresas.
Revisões técnicas reduziram o escopo e facilitaram obrigações de due diligence. A prolongação despertou críticas de ambientalistas e produtores, que alertaram para a perda de incentivo e incerteza regulatória.
Apesar das dúvidas, a EUDR já induziu mudanças: empresas investiram em rastreabilidade e governos de produtores ajustaram políticas de exportação para atender aos requisitos europeus.
Commodities: sinais díspares para as florestas
O mercado de ouro atingiu recordes, estimulando garimpo artesanal em áreas florestais, principalmente na Amazônia e no Escudo Guianês. Em contrapartida, as cotações do cacau permaneceram elevadas, porém abaixo de 2024, pressionando novas áreas de cultivo em países produtores.
Carne bovina manteve preços estáveis e exportações brasileiras cresceram, contribuindo para pressões em fronteiras agrícolas. A soja ficou mais competitiva entre EUA e Brasil, ampliando a expansão logística para a Amazônia e o Cerrado. Palma e minerais críticos mostraram dinamismo, com implicações para desmatamento e uso da terra.
Mercados de carbono florestal
Os mercados voluntários de carbono reduziram atividades em 2025, com exigência de credenciais mais confiáveis. Créditos atrelados a dados recentes atraíram interesse; créditos antigos perderam apelo. Críticas apontaram sobrevalorização de benefícios ambientais.
Governos e investidores exploring formas de financiar a proteção de florestas via orçamentos públicos e finanças de desenvolvimento, com o TFFF como referência. A governança, monitoramento e salvaguardas comunitárias ganharam destaque como condições para credibilidade.
Retirada americana
Os EUA reduziram o combustível financeiro para conservação internacional. O congelamento de aid externa, cortes de contratos e demissões desaceleraram projetos de monitoramento, patrulhamento e acordos com comunidades, embora algumas ações em organismos internacionais persistam.
A retirada afetou a disponibilidade de crédito de natureza e atrasou programas de cooperação. A diplomacia florestal perdeu consistência, com impactos sobre parcerias e financiamentos multilaterais.
Recuperação e regeneração
A literatura científica destacou que a proteção de florestas em regeneração pode gerar benefícios maiores que plantios novos em muitos casos. A proteção de florestas secundárias, que recuperam à medida que o manejo é estável, aparece como estratégia eficiente.
A governança, tenuras de terras e manejo do fogo influenciam o sucesso da regeneração. Em paisagens fragmentadas, restaurações assistidas passam a ser prática comum, com benefícios de biodiversidade e resiliência.
Ecologia tropical e sensoriamento remoto
Estudos mostraram que as florestas funcionam como sistemas, não apenas como reservas de carbono. Mudanças no clima, fauna e dispersão de sementes afetam estruturas ecológicas e funções como o ciclo de nutrientes.
No campo da observação, a combinação de radar, lidar e imagens ópticas, com dados de campo e IA, permitiu monitoramento mais contínuo. No entanto, interrupções em missões satelitais destacaram fragilidades na continuidade dos dados.
Olhando para 2026
O panorama indica continuidade de tendências, com avanços em governança, finanças públicas voltadas à proteção e melhoria na monitorização. Ainda que haja ganhos, os efeitos de conflitos, degradação acumulada e governança desigual persistem.
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