- Documentos de 2005 mostram que o governo australiano foi alertado de que mudanças climáticas ocorriam mais rápido do que o previsto e que sistemas econômicos e humanos no país eram vulneráveis, especialmente pela dependência do carvão.
- A apresentação do gabinete em agosto de 2005 indicou lacunas de conhecimento sobre o timing, local e magnitude dos danos, mesmo com cooperação internacional para reduzir os piores efeitos.
- Os avisos destacaram que a dependência do carvão tornaria mais difícil equilibrar impactos climáticos e crescimento econômico, prevendo grandes disrupções econômicas, ambientais e sociais.
- O documento aponta riscos para recursos hídricos, sistemas agrícolas, fornecimento de energia, infraestrutura de transporte, saúde pública, comunidades costeiras e turismo, com impactos agravados por secas e chuvas irregulares.
- Em políticas, ficou evidenciado o histórico de decisões como a não ratificação do Protocolo de Kyoto em dois mil e dois e o veto a um esquema de comércio de emissões em dois mil e três, além de resistência inicial a metas de energias renováveis.
O material recém-divulgado traz detalhes de documentos oficiais de 2005 que alertavam sobre grandes impactos econômicos, ambientais e sociais na Austrália devido à dependência do carvão. Os relatos indicam que o governo da época já reconhecia que as mudanças climáticas ocorriam mais rápido do que o previsto e que muitos sistemas humanos e atividades econômicas estavam vulneráveis.
Os papéis do gabinete, divulgados pelo National Archives, mostram que as autoridades avisaram sobre lacunas no conhecimento sobre o momento, a localização e a magnitude dos danos climáticos, mesmo com cooperação internacional para mitigar impactos. Concluía-se que o uso intenso de carvão dificultaria equilibrar crescimento econômico e custos ambientais.
Entre os signatários da análise estavam o então ministro das Relações Exteriores, Alexander Downer, e o então ministro do Meio Ambiente, Ian Campbell. O documento descreve o ritmo das mudanças no planeta como “sem precedentes na história humana” e relata CO2 30% mais alto do que em qualquer período dos últimos 400 mil anos.
Contexto e impactos previstos
A dependência de recursos hídricos, agricultura, energia e transporte foi destacada como vulnerável. Previa-se pressão sobre o abastecimento de água, recomposição de sistemas agrícolas, disponibilidade de energia elétrica e infraestrutura de transportes, além de impactos na saúde pública, turismo e áreas costeiras.
Os documentos apontam que a variação climática, aliada à redução de chuvas em várias regiões agrícolas e à irrigação intensiva, poderia tornar a Austrália mais vulnerável que outros países desenvolvidos. A pesquisa também antecipava incêndios florestais mais frequentes e severos, com efeitos negativos na produção agrícola já afetada por problemas de solo.
A decisão de não ratificar o Protocolo de Kyoto, em 2002, é mencionada como fator de incerteza regulatória para investidores e empresas australianas. Em 2003, o governo chegou a vetar uma proposta de sistema de comércio de emissões e, no ano seguinte, recusou metas mais rígidas para energia renovável.
Dinâmica política e diálogos futuros
A matéria indica que, até 2007, mesmo com pressão de oposição, mudanças ocorreram: o então primeiro-ministro Howard mudou posição e apoiou um esquema de comércio de emissões após avaliação interna. O governo também reconheceu, segundo os documentos, que tecnologias como captura e armazenamento de carbono tinham potencial ainda limitado em 2005.
O ex-ministro Philip Ruddock afirmou que havia reconhecimento da evolução do consenso científico e defendeu que a Austrália deveria contribuir de forma justa para enfrentar o clima. O relatório ressalta ainda que, conforme o Treasury, a atuação internacional deveria ser eficaz ambientalmente, economicamente viável e não onerar desproporcionalmente o país.
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