O poder das emoções negativas: como elas moldam nossa percepção e comportamento

O resultado das eleições nos Estados Unidos, que culminou com a reeleição de Donald Trump, exemplifica o impacto do sesgo negativo na percepção pública. Insultos e afirmações extremas, como “os imigrantes se comem nossos animais de estimação”, tiveram mais peso do que as propostas de Kamala Harris. Estrategistas políticos reconhecem que, em uma comparação entre eventos ou promessas positivas e negativas, as últimas tendem a ter um impacto mais duradouro na memória coletiva.

Esse fenômeno é explicado por uma perspectiva evolutiva: a lembrança de ameaças, como a presença de um urso, é crucial para a sobrevivência, enquanto experiências agradáveis, como a descoberta de uma flor, são facilmente esquecidas. Essa tendência é visível na mídia, onde conflitos e calamidades dominam a cobertura, ofuscando as boas notícias. Assim, as emoções negativas permeiam diversos aspectos da vida, desde a política até interações pessoais, criando um embate entre visões pessimistas e otimistas da realidade.

A professora Mariana Alessandri, em seu livro “Visão Noturna”, aborda a importância de integrar emoções sombrias de forma saudável. Ela destaca que a ira pode ser uma força criativa, que o dolor conecta as pessoas e que a depressão deve ser vista como um processo natural, não apenas como uma doença a ser erradicada. Além disso, a ansiedade é reconhecida como uma epidemia contemporânea, especialmente entre universitários, exigindo compreensão e adaptação para lidar com suas causas.

Por fim, a autora sugere que o conhecimento das emoções negativas é essencial para não sermos dominados por elas. Em sua introdução, Alessandri compartilha um poema de Wendell Berry, que enfatiza a importância de explorar a escuridão para realmente entender a luz. Essa reflexão se alinha com obras como “Factfulness”, de Hans Rosling, e “Humankind”, de Rutger Bregman, que, apesar de abordarem temas positivos, também reconhecem a prevalência de narrativas negativas na sociedade.