Maicon, 11 anos, reflete sobre os impactos da pandemia em sua educação: “Se não tivesse acontecido a pandemia, eu já saberia ler e escrever”. Ele começou o primeiro ano do ensino fundamental em 2020, quando as aulas na rede pública de São Paulo foram transferidas para o formato online. Sem acesso adequado, Maicon enfrentou dificuldades […]
Maicon, 11 anos, reflete sobre os impactos da pandemia em sua educação: “Se não tivesse acontecido a pandemia, eu já saberia ler e escrever”. Ele começou o primeiro ano do ensino fundamental em 2020, quando as aulas na rede pública de São Paulo foram transferidas para o formato online. Sem acesso adequado, Maicon enfrentou dificuldades para acompanhar o ensino remoto. Larissa, também de 11 anos, compartilha experiências semelhantes, ressaltando que não conseguiu aprender a ler e escrever no primeiro ano e, mesmo assim, foi promovida para o segundo. Um estudo da Unicef revela que 30% das crianças de até 8 anos não estavam alfabetizadas em 2023, um aumento significativo em relação a 2019, quando esse número era de 14%.
As dificuldades enfrentadas por crianças em situação de vulnerabilidade foram ainda mais acentuadas. Maria Clara, de 10 anos, relata as condições precárias em que vive, enquanto Kennedy, de 9 anos, descreve o sufoco de ficar em casa durante o isolamento. A insegurança alimentar severa também aumentou, afetando lares com crianças. Um relatório global aponta que a falta de políticas de controle de preços e o desemprego contribuíram para essa situação. A pesquisa do doutor Luiz Kohara indica que crianças em condições precárias têm quatro vezes mais chances de serem reprovadas. Maicon, que trocou de escola frequentemente devido a dificuldades financeiras, não foi reprovado graças à política de progressão continuada.
A pandemia também teve um impacto significativo na socialização e no desenvolvimento emocional das crianças. Márcia Machado, pesquisadora da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura, observa que o distanciamento físico prejudicou a linguagem e a socialização. As crianças passaram a brincar mais em casa, mas o aumento do tempo em frente às telas diminuiu a intensidade das brincadeiras. Anderson, de 12 anos, relata que, durante o isolamento, sua única atividade era assistir televisão. Além disso, muitos enfrentaram o luto precoce, como Maria Clara, que perdeu um familiar e teve dificuldades emocionais.
As crianças com necessidades especiais, como Gabriel, de 10 anos, enfrentaram desafios ainda maiores. Sua mãe, Viviane, acredita que a falta de frequência escolar prejudicou o diagnóstico de TDAH. Gabriel, que agora faz terapias, teve seu desenvolvimento emocional afetado. As pesquisadoras sugerem que é crucial criar espaços urbanos mais acolhedores e equilibrar o uso de tecnologia com atividades físicas. O governo federal lançou o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada para garantir a alfabetização até o segundo ano do ensino fundamental. Apesar dos desafios, as crianças estão encontrando formas de reconstruir seus sonhos, como Anderson, que deseja ser MC, e Maicon, que sonha em ser goleiro.
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