14 de jul 2025
Setor público prioriza tecnologia estrangeira em vez de investir em ciência nacional
Estudo revela que Brasil pode fortalecer inovação local ao redirecionar R$ 23 bilhões gastos com tecnologia estrangeira.

Teclado de computador em close, com as teclas direcionais e de números, na cor preta, em primeiro plano (Foto: USP Imagens)
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O setor público brasileiro gastou R$ 23 bilhões em tecnologia estrangeira entre 2014 e 2025, conforme estudo realizado por pesquisadores da USP e da UnB. Esse montante, que supera o orçamento de diversos Ministérios, levanta preocupações sobre a alocação de recursos em soluções locais. O estudo, intitulado Contratos, Códigos e Controle: A Influência das Big Techs no Estado Brasileiro, destaca que, apenas entre junho de 2024 e junho de 2025, o gasto com tecnologia internacional ultrapassou R$ 10,35 bilhões.
Ergon Cugler, coordenador da pesquisa, enfatiza que essa escolha representa uma inversão de prioridades que compromete o futuro do Brasil. "Estamos enviando dinheiro público para sustentar a inovação em outros países, quando poderíamos investir aqui, fortalecendo a capacidade científica nacional", afirma. O estudo revela que, com os recursos destinados à tecnologia estrangeira, seria possível construir 86 data centers de alto padrão no Brasil.
Investimentos em Tecnologia
Entre janeiro de 2023 e junho de 2025, o setor público contratou R$ 5,97 bilhões em licenças de software, R$ 9 bilhões em soluções de nuvem e R$ 1,91 bilhão em segurança digital. As empresas que dominam esses contratos são Microsoft, Oracle, Google e Red Hat, com a Microsoft liderando com R$ 3,27 bilhões. Cugler destaca que cada contrato com multinacionais fecha portas para startups e instituições locais que poderiam oferecer soluções tecnológicas.
A pesquisa também aponta que o valor gasto em tecnologia estrangeira poderia financiar bolsas para 350 mil pós-graduandos durante um ano ou manter a Universidade de Brasília (UnB) funcionando por até quatro anos e meio. "Com os mesmos recursos que sustentam big techs, poderíamos financiar datacenters nacionais e gerar milhares de empregos qualificados", conclui Cugler.
Desafios e Oportunidades
Os pesquisadores ressaltam que a fragmentação das bases de dados dificulta a obtenção de números exatos, sugerindo que o valor real pode ser ainda maior. A análise das bases ComprasNet e Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP) revela a dimensão dos investimentos em tecnologia estrangeira, que não apenas afeta a economia, mas também a autonomia tecnológica do Brasil. A pesquisa, que faz parte do trabalho do Grupo de Estudos em Tecnologia e Inovações na Gestão Pública (Getip), está disponível em formato de nota técnica e versão completa.
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