Setor público deve resgatar a dignidade do serviço, afirma professora britânica

Anna Petherick, diretora do Lemann Foundation Programme na Blavatnik School of Government da Universidade de Oxford, compartilhou suas experiências sobre a desigualdade e a polarização política no Brasil. Em entrevista, ela discutiu como o programa busca unir teoria acadêmica e prática para gestores públicos.

Petherick, que tem formação em ciência política, destacou o impacto da desigualdade que presenciou em sua primeira visita ao Brasil. Ela se lembrou de um contraste marcante entre uma concessionária de luxo e uma favela no Rio de Janeiro, refletindo sobre a instabilidade social que isso representa. Para ela, o Brasil poderia prosperar se todos tivessem a chance de desenvolver seus talentos.

O Lemann Foundation Programme visa abordar problemas específicos do Brasil, buscando soluções através de pesquisa aplicada. O foco é entender como o conhecimento pode ser utilizado para transformar a administração pública, com um diálogo constante entre acadêmicos e servidores. Petherick enfatizou a importância de um propósito claro nas organizações públicas para motivar os servidores.

Desafios da Polarização

A polarização política no Brasil é um desafio significativo. Petherick observou que cidadãos percebem a afiliação política dos servidores em 60% das interações, o que afeta a qualidade do atendimento público. Essa desconfiança mútua prejudica a colaboração entre cidadãos e servidores, dificultando a resolução de problemas sociais.

Ela também mencionou que a escuta e o diálogo são essenciais para reduzir a polarização. Um estudo do programa revelou que corrigir percepções erradas sobre opiniões políticas pode diminuir a hostilidade entre grupos opostos. A inclusão social, de gênero e de raça nas instituições públicas é outra prioridade, exigindo uma mudança cultural profunda.

Petherick concluiu que a transformação das instituições públicas é vital para aproveitar ao máximo os talentos brasileiros. Ela convidou todos a enxergar a desigualdade sob uma nova perspectiva, imaginando um Brasil onde as instituições funcionem para o bem comum. A música "Maria Maria", de Milton Nascimento, foi escolhida por ela como uma representação dessa luta.