18 de jun 2025
Geração Z: rir para não surtar
Essa geração não leva nada a sério ou apenas encontrou no humor uma forma de lidar com o caos?

Jovens reunidos rindo. (Imagem: Creative Commons)
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Nos últimos anos, a Geração Z tem se mostrado nas redes sociais, especialmente no TikTok, como unbothered , termo em inglês que pode ser traduzido como “despreocupada” ou “imperturbável”.
Em outubro do ano passado, durante as enchentes na Flórida causadas pelo furacão Milton, uma série de vídeos cômicos viralizou. Jovens dançavam na chuva, reencenavam cenas de filmes no meio da tempestade e remavam em caiaques pelas ruas alagadas. Apesar de contrariar as recomendações de segurança, como se abrigar e evitar sair durante o fenômeno, os vídeos arrancaram risadas e curtidas nas redes.
Algo semelhante ocorreu durante os incêndios florestais em Los Angeles, que destruíram centenas de propriedades e comoveram o mundo. Um dos vídeos mais comentados mostrava um jovem filmando a si mesmo com as terras queimadas ao fundo, enquanto tocava, de forma irônica, a música Burn, de Ellie Goulding. Em determinado momento, ele faz um gesto de coração com as mãos na direção dos bombeiros, como forma de agradecimento e também de performance para a câmera.
Mais recentemente, viralizou o vídeo de um garoto observando mísseis no céu e dizendo: “My first world war… kinda nervous” (“Minha primeira guerra mundial… tô meio nervoso”). Nos comentários, o tom irônico se repetiu: “What are we gonna wear, guys?” (“O que a gente vai vestir, galera?”) e “Alexa, play One Last Time, from Ariana Grande” (“Alexa, toca One Last Time, da Ariana Grande”).
Após os bombardeios do dia 13 de junho, o perfil Daily Iran Military publicou no X (antigo Twitter): “Everyone will feel it.” (“Todo mundo vai sentir.”). A resposta veio em forma de deboche coletivo: “Define everyone, please” (“Defina ‘todo mundo’, por favor”), “Iran tweeting like an anime character on a revenge arc” (“O Irã tuitando como um personagem de anime em arco de vingança”) e “You sound like that kid in high school with a Rollie backpack and a wolf t-shirt. Calm down.” (“Você parece aquele garoto do colégio com mochila de rodinha e camiseta com lobo. Se acalma.”).
E então começaram os POVs — vídeos de “ponto de vista”, como são chamados entre os jovens — imaginando a convocação para a guerra: “Eu e as meninas sendo mandadas para o exército: ‘Hey, he’s kinda cute’” (“Olha, ele é até bonitinho”) e “I’ll only go if you go, bestie” (“Eu só vou se você for, miga”).
Agora, até surgiram os get ready with me (“arrume-se comigo”) para a Terceira Guerra Mundial, vídeos em que a pessoa mostra seu processo de se arrumar para alguma ocasião, geralmente compartilhando dicas de maquiagem, roupas e estilo.
Mas aqui vem a virada: por trás dessa fachada despreocupada, a Geração Z também é profundamente consciente, emocionalmente intensa e exausta. Eles riem, mas também estão com medo. Medo do futuro, medo de não serem suficientes, medo desse mundo esquisito e quebrado que herdaram. É pandemia, emergência climática, ameaças nucleares. Só que, em vez de gritar, eles riem. Ou gritam rindo. Ou postam um TikTok chorando enquanto dublam Gracie Abrams dentro do carro.
Num mundo em que crises como a emergência climática, pandemias, polarização política e ameaças nucleares surgem o tempo todo, não é surpresa que a Geração Z tenha encontrado nos memes e no humor uma forma de alívio. Alguns diriam, inclusive, que conseguir rir diante de tempos tão desesperadores é, no fim das contas, um jeito saudável de seguir em frente.
A grande dúvida que fica é: esses jovens, que hoje riem do colapso e dublam o próprio desespero, serão os adultos que vão transformar o mundo — ou só vão continuar fazendo memes sobre ele?
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