18 de ago 2025
Pele de peixe amazônico se transforma em bolsa de luxo, mas pescadores ficam sem lucro
Especialistas alertam para a concentração de lucros no mercado do couro de pirarucu, prejudicando pescadores e a conservação da espécie

Um pescador carrega um pirarucu na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, em Fonte Boa, estado do Amazonas (Foto: AFP via Getty Images/BBC)
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O manejo sustentável do pirarucu, peixe da Amazônia, tem atraído a atenção de marcas de luxo e autoridades ambientais, promovendo a conservação e a geração de renda para comunidades locais. No entanto, especialistas alertam que a maior parte dos lucros não chega aos pescadores, levantando preocupações sobre fiscalização e contrabando.
As peles do pirarucu são utilizadas em bolsas e acessórios que podem custar milhares de reais. Marcas como Osklen e Piper & Skye destacam os benefícios socioambientais do manejo, que permite a captura controlada da espécie, anteriormente ameaçada de extinção. O modelo atual envolve a contagem dos peixes e a autorização para a captura de apenas uma parte, garantindo a conservação e a remuneração das comunidades ribeirinhas.
Entretanto, representantes de comunidades e especialistas afirmam que, embora o manejo tenha ajudado a recuperar a população do peixe, os pescadores não recebem uma parte justa dos lucros. Pedro Canízio, vice-presidente da Federação dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá, destaca que o preço do quilo do pirarucu é baixo, em torno de R$ 11, enquanto os produtos de luxo são inacessíveis para eles.
A consultora Fernanda Alvarenga ressalta que a cadeia produtiva do pirarucu enfrenta desafios, com a maioria das peles sendo comercializadas por frigoríficos, enquanto apenas 5% são vendidas por associações comunitárias. A falta de reconhecimento e remuneração justa para os pescadores pode comprometer a conservação da Amazônia.
Desafios do Mercado
A Nova Kaeru, empresa que domina o mercado do couro de pirarucu, representa 70% das exportações do produto. Apesar de afirmar que busca remuneração justa, críticos apontam que a concentração de mercado e a falta de concorrência prejudicam os pescadores. Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes, destaca que o sistema atual não garante uma relação justa com as comunidades.
Além disso, a fiscalização sobre o contrabando do pirarucu é insuficiente. Dados do Ibama mostram que 70% das multas relacionadas à pesca ilegal ocorrem no Amazonas. O chefe do Núcleo de Fiscalização do órgão, Igor de Brito, admite que a falta de recursos e mão de obra dificulta o combate à pesca ilegal.
A situação é preocupante, pois a falta de controle pode levar à captura de pirarucu ilegal, comprometendo não apenas a conservação da espécie, mas também a subsistência das comunidades que dependem dela. A necessidade de políticas públicas que fortaleçam a cadeia produtiva e garantam a remuneração justa é urgente para a preservação do pirarucu e da Amazônia.
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