Branko Milanovic revela como esquerda e direita ignoraram a desigualdade por décadas

Branko Milanović, economista sérvio-americano, lança seu novo livro, "Visões da Desigualdade: da Revolução Francesa ao Fim da Guerra Fria", onde analisa as obras de seis autores clássicos sobre desigualdade de renda. A obra conecta ideias de pensadores como Adam Smith e Karl Marx a questões sociais contemporâneas.

Milanović explora a evolução do debate sobre desigualdade ao longo de mais de dois séculos, destacando como as visões sobre a concentração de riquezas mudaram. O autor apresenta uma narrativa que vai desde os estudos de François Quesnay até as análises de Simon Kuznets, revelando a relevância desses pensamentos para os problemas atuais.

O livro não se limita a uma análise histórica, mas também discute a relação entre desigualdade e as condições sociais de cada época. Milanović argumenta que, embora a desigualdade tenha sido reduzida em alguns contextos, como na social-democracia do século 20, a globalização recente trouxe novos desafios.

Análise dos Clássicos

A obra revisita Adam Smith, que, segundo Milanović, não deve ser visto apenas como um defensor do capitalismo. Smith acreditava que o progresso econômico deveria ser medido pelo bem-estar dos mais pobres. O autor também destaca a visão de Marx, que, apesar de suas críticas ao capitalismo, não via a desigualdade como um destino inevitável.

Milanović critica a falta de atenção ao tema da desigualdade durante a Guerra Fria, quando o debate foi eclipsado por ideologias dominantes. Ele menciona que, enquanto os sistemas socialistas conseguiram reduzir a desigualdade, a narrativa ocidental frequentemente ignorou essa questão.

Reflexões Contemporâneas

No epílogo, o autor observa que a desigualdade voltou a ser um tema central nas discussões econômicas atuais. Ele menciona que as curvas de Kuznets, que sugeriam uma queda da desigualdade em estágios avançados do capitalismo, agora se transformaram em ciclos, indicando que as disparidades podem novamente aumentar.

Milanović também faz referência a economistas latino-americanos, como Celso Furtado, que desafiaram a narrativa predominante sobre desigualdade. Embora reconheça limitações em algumas de suas teses, ele elogia a integração de análises políticas e históricas nos estudos sobre desenvolvimento.

"Visões da Desigualdade" é uma obra que promete instigar reflexões sobre a desigualdade de renda, oferecendo uma visão abrangente e crítica sobre o tema, essencial para compreender os desafios sociais contemporâneos.