China enfrenta agravamento da deflação com empresas em guerras de preços

BEIJING — A economia chinesa enfrenta um cenário desafiador, marcado por superprodução e intensa competição, resultando em pressão deflacionária em diversos setores. Um estudo da Natixis, que analisou 2.500 empresas listadas, revela que, apesar do aumento no volume de produção, os lucros estão em queda. A economista-chefe da Natixis para a Ásia-Pacífico, Alicia Garcia Herrero, destacou que as empresas estão dominando o mercado, mas pagando um alto preço por isso.

Nos primeiros seis meses do ano, os preços ao consumidor caíram 0,1% em relação ao ano anterior, enquanto os preços de produção nas fábricas despencaram 2,8%. Apenas sete dos 48 subcategorias de preços de produtores registraram alta. Essa competição feroz, descrita como "involução", preocupa economistas, que alertam para um ciclo vicioso que pode levar a mais demissões.

O governo chinês reconhece a gravidade da situação e tem promovido estímulos fiscais. A expansão da força de trabalho das empresas listadas na China foi de apenas 1% em 2024, a menor taxa já registrada. Larry Hu, economista-chefe da Macquarie, afirmou que a involução é tanto uma característica quanto um problema do modelo econômico chinês, onde investimentos massivos resultam em guerras de preços e retornos ruins para os acionistas.

Desafios Setoriais

O setor de veículos elétricos exemplifica essa dinâmica, com a BYD oferecendo descontos de até 30% e a Xiaomi posicionando seus preços abaixo dos da Tesla. No setor de café, a Starbucks enfrenta dificuldades com vendas em queda, enquanto concorrentes oferecem preços significativamente mais baixos. No mercado imobiliário, tentativas de aumento de preços em Beijing resultaram em maior vacância.

As previsões para o crescimento do PIB no segundo trimestre indicam uma alta de 5,2%, abaixo do 5,4% do primeiro trimestre, mas alinhada à meta nacional de 5% para o ano. Contudo, o segundo semestre pode trazer um cenário mais difícil, com a expectativa de que os lucros das empresas de manufatura continuem a cair.

Respostas do Governo

Analistas observam que a atual crise de superprodução é mais complexa, pois envolve principalmente empresas privadas, dificultando a coordenação de fusões. A alta dívida pública, que gira em torno de 100% do PIB, limita a capacidade do governo de implementar estímulos fiscais agressivos. Em uma reunião recente, o presidente Xi Jinping enfatizou a necessidade de regular a "competição desordenada de preços".

Para alcançar as metas de crescimento, especialistas sugerem que o governo precisará lançar um estímulo significativo à demanda. Isso poderia aliviar a pressão competitiva entre os produtores, mas a absorção da capacidade existente será um processo longo e desafiador. A guerra comercial com os EUA também complica a situação, com tarifas elevadas sobre produtos chineses, forçando os fabricantes a buscar alternativas no exterior.