Juros altos impulsionam crescimento das cooperativas de crédito no Brasil

A frase “um por todos e todos por um”, criada por Alexandre Dumas em “Os Três Mosqueteiros”, reflete bem o cooperativismo, que surgiu em 1844 em Manchester, Inglaterra. A união de operários para comprar produtos em grande quantidade estabeleceu as bases para transformações socioeconômicas globais. Atualmente, existem três milhões de cooperativas no mundo, segundo a Aliança Cooperativa Internacional, e no Brasil, são 4.509 registradas na Organização de Cooperativas do Brasil (OCB), com mais de 23 milhões de cooperados, representando quase 12% da população.

No setor financeiro, as cooperativas têm promovido inclusão, oferecendo acesso ao crédito a quem antes não conseguia. Ivo Lara Rodrigues, presidente da Federação Nacional das Cooperativas de Crédito (FNCC), destaca que essas instituições são regulamentadas pelo Banco Central e têm uma proposta de inclusão financeira mais efetiva. Atualmente, elas estão presentes em 57% dos municípios brasileiros, com 17,3 milhões de cooperados. Para obter crédito, é necessário se tornar sócio, contribuindo com capital, o que resulta em taxas de juros menores que as do mercado.

Entretanto, o crescimento das cooperativas de crédito traz desafios, como o aumento da inadimplência, que subiu de 1,1% em dezembro de 2021 para 2,4% em dezembro de 2023. Apesar de ainda serem inferiores às taxas dos bancos comerciais, essa situação levou as cooperativas a aprimorar a gestão de risco. A Resolução 4966 do Banco Central impôs novas exigências de provisionamento, visando alinhar os recursos financeiros a padrões internacionais.

Uma estratégia adotada para lidar com a inadimplência é a venda de carteiras de crédito inadimplente. Em 2024, as cooperativas movimentaram R$ 800 milhões em cessão de créditos não performados, um aumento significativo em relação a R$ 100 milhões em 2019. A Recovery, que administra mais de R$ 150 bilhões em créditos inadimplentes, tem se concentrado na aquisição de carteiras de cooperativas, ajudando-as a manter liquidez. Plínio Ribeiro, do Grupo Recovery, ressalta que a dinâmica de cobrança deve ser diferente, considerando que os cooperados são sócios, o que altera a percepção de inadimplência e pode impulsionar o crescimento do setor.