Yoko Ono e John Lennon: a complexa relação que marca nova biografia da artista

Yoko Ono, aos 31 anos, apresentou em março de 1964 a performance Cut Piece, que se tornaria um marco em sua carreira, sendo repetida em outras cinco ocasiões, incluindo uma em 2003, aos 70 anos. Durante a performance, Ono, vestida elegantemente, convida o público a cortar pequenos pedaços de suas roupas com uma tesoura. Nos anos 60, a interação frequentemente assumia um tom ameaçador, refletindo a complexidade da liberdade sexual da época, onde homens se sentiam autorizados a despojar Ono de suas vestes, transformando espectadores em meros observadores. Cut Piece é considerada uma poderosa declaração feminista, abordando a objetificação das mulheres e, ao mesmo tempo, ecoando a devastação do Japão pós-Segunda Guerra Mundial, que Ono vivenciou na infância.

O novo livro Yoko, escrito por David Sheff, inicia com uma análise de Cut Piece, apresentando Ono como provocadora e mártir. Sheff, que conheceu Ono e John Lennon, utiliza entrevistas anteriores para construir uma narrativa que busca desmantelar os estereótipos racistas e misóginos que cercam a artista. A obra se posiciona contra a ideia de que Ono foi responsável pela separação dos Beatles, enfatizando que sua arte e música, frequentemente desdenhadas, influenciaram diversos artistas contemporâneos. A reavaliação de sua obra começou nos anos 90, quando bandas como Sonic Youth reconheceram suas contribuições, culminando em retrospectivas significativas de seu trabalho.

A biografia de Sheff explora os 14 anos de relacionamento entre Ono e Lennon, abordando suas experiências artísticas, desafios com a fama e a luta contra vícios. O livro também inclui depoimentos de amigos e familiares que iluminam momentos cruciais da vida do casal, como os famosos "bed-ins" em protesto à Guerra do Vietnã. A narrativa se aprofunda na infância de Ono, marcada por uma educação elitista e a experiência da guerra, que moldaram sua visão artística e sua busca por um mundo mais pacífico.

Embora o livro não traga novidades chocantes, ele oferece uma visão mais humanizada de Ono, contrastando com a imagem muitas vezes incompreendida que a rodeia. A obra de Sheff destaca a complexidade do amor entre John e Yoko, refletindo sobre como suas vidas pessoais e artísticas se entrelaçaram. A narrativa não busca resolver os mistérios de seu relacionamento, mas sim apresentá-los em toda a sua complexidade, revelando as nuances que ainda reverberam na vida de Ono.