15 de jul 2025
Sesc 24 de Maio Celebra 40 Anos do Hip-Hop Paulistano
Exposição tem 3 mil peças e curadoria de OSGEMEOS, Rooneyoyo O Guardião, KL Jay, Thaíde, Sharylaine e Rose MC, e o b boy ALAM Bea

(OSGEMEOS com Rooneyoyo entre os dois)
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Quatro décadas após suas primeiras batidas ecoarem pelas ruas da capital paulista, a essência do Hip-Hop original ressurge com força total no Sesc 24 de Maio. A exposição "HIP-HOP 80’sp – São Paulo na Onda do Break", que abre as portas para o público em 24 de julho de 2025 e segue até 29 de março de 2026, convida a uma imersão na história de uma geração que, com poucos recursos, gerou uma potência cultural inigualável.
A mostra, que conta com uma curadoria coletiva e reúne mais de 3 mil peças inéditas, reconstrói a revolução urbana que transformou locais emblemáticos da cidade em palcos de resistência. Entre eles, destacam-se a Estação São Bento, a Praça Roosevelt, o Parque Ibirapuera e a icônica esquina da 24 de Maio com a Dom José de Barros, local que sedia a exposição.
A idealização e curadoria de "HIP-HOP 80’sp" são compartilhadas por vozes e testemunhas fundamentais da cena, garantindo autenticidade e profundidade à narrativa. O time de curadores inclui nomes como OSGEMEOS, Rooneyoyo O Guardião, KL Jay (DJ histórico dos Racionais MC’s), Thaíde, as pioneiras Sharylaine e Rose MC, e o b-boy ALAM Beat. A produção executiva é de Camila Miranda e Ricardo Samelli, e a realização é do Sesc São Paulo.
Os curadores explicam a motivação por trás da iniciativa: "Fizemos um recorte específico, um resgate histórico em prol da preservação da memória. A ênfase está na importância de mostrar às novas gerações como a cultura do Hip-Hop surgiu e se enraizou em São Paulo". O diretor do Sesc São Paulo, Luiz Galina, complementa, afirmando que a exposição "reitera o compromisso [do Sesc] com a valorização e a historicização de matrizes culturais diversas, caracterizadas pela combinação entre contestação e inventividade, por entender que nas transgressões estéticas reside a semente de necessárias transformações sociais."
Com mais de 3 mil peças, a exposição é um verdadeiro tesouro para amantes da cultura. O acervo inclui itens de coleções pessoais de nomes como Nelson Triunfo, Billy, Pierre, Ricardinho e Renilson do grupo Electric Boogies. Além disso, há registros históricos nacionais e internacionais, como fotos inéditas da fotógrafa Martha Cooper, que documentou o nascimento do Hip-Hop em Nova York; o fundamental documentário "Style Wars" (1983), de Henry Chalfant; e gravações exclusivas do artista visual Michael Holman, que imortalizou as primeiras batalhas de break.
Equipamentos de som originais, flyers de bailes black, roupas de época e colaborações com o Museum of Graffiti (Miami) completam o panorama, testemunhando uma era em que o improviso se solidificou como linguagem criativa.
A mostra se destaca não apenas pelo acervo, mas pela dimensão sensorial e pela programação educativa. Uma área central recria a atmosfera da São Bento dos anos 1980, e um vagão de metrô cenográfico funcionará como espaço para oficinas de DJ, Hip-Hop, graffiti, dança e rodas de conversa, promovendo a troca intergeracional e a continuidade da cultura de rua.
A imersão se completa com um setup de DJ de cristal contendo aparelhos autênticos dos anos 1980, um piano cinético que reage aos movimentos de B.Boys e B.Girls, e a projeção de filmes selecionados pelos curadores. A relação entre Hip-Hop e cinema é evidenciada com trechos de filmes como "Flashdance" (1983), "Beat Street" (1984) e "Breakin’ (1984)", que ajudaram a popularizar a cultura.
A Singularidade do Hip-Hop Brasileiro: Criação e Resistência
A exposição, embora reconheça a dimensão política do Hip-Hop, enfatiza seu aspecto lúdico e coletivo, que atuou como ferramenta de expressão durante os últimos anos da ditadura militar. "Fizemos Hip-Hop sem saber que fazíamos Hip-Hop. Era expressão de liberdade, resistência, diversão e sobrevivência", lembra Gustavo Pandolfo, dos OSGEMEOS. Rooneyoyo O Guardião complementa: "Essa cultura nos salvou. Criou um lugar para a gente sonhar."
Gustavo Pandolfo também destaca o caráter único do Hip-Hop brasileiro, que nasceu da escassez e se moldou com a criatividade do improviso local: roupas que simulavam grifes, sons com múltiplas camadas, elementos de repente, capoeira e soul. "Foi uma resposta estética inventiva e inconfundível", reforça o artista.
Rooneyoyo O Guardião, figura central do Hip-Hop paulistano dos anos 1980, teve um papel crucial na mostra, reunindo memória, pesquisa de campo e articulação comunitária para garantir a autenticidade e a vitalidade da homenagem.
A Força Feminina na Cena: Pioneirismo e Luta
A presença das mulheres no Hip-Hop, especialmente em suas raízes, foi marcada por muitas barreiras. Artistas como Sharylaine e Rose MC, ambas presentes na equipe curatorial, foram essenciais para a construção dessa cultura. Reconhecida como uma das primeiras-damas do rap nacional, Sharylaine, fundadora do grupo RAP Girls, segue ativa com uma trajetória de lirismo e militância: "O Hip-Hop é a minha religião. A rima é minha oração." Rose MC se define como "uma das pioneiras no Hip-Hop, B.Girl, rapper e mulher da cultura de rua", simbolizando o enraizamento e a longevidade da presença feminina na cultura urbana.
O termo "Hip-Hop" tem raízes onomatopaicas, que remetem a movimento e dança, e foi cunhado no final dos anos 1970 por rappers como Cowboy e Lovebug Starski. Nos Estados Unidos, a cultura se expandiu do sul do Bronx para outras regiões de Nova York. No Brasil, o Hip-Hop chegou de forma pulverizada e fascinante, através de videoclipes, novelas e cópias em VHS. Apesar da ênfase na gênese paulistana, a cultura se espalhou por diversos estados brasileiros.
"HIP-HOP 80’sp – São Paulo na Onda do Break" valoriza os pilares da cultura – DJ, MC, Graffiti, Breaking e Conhecimento – em diálogo com os pontos de efervescência cultural da cidade, onde jovens encontraram na arte uma forma de reivindicar sua presença. A exposição simula uma linha de metrô, com um percurso que leva o visitante do Bronx dos anos 70 à Estação São Bento, o epicentro do Hip-Hop paulistano, passando pela fotografia de Martha Cooper, o cinema de Michael Holman e Henry Chalfant, e a chegada do break ao Brasil. O visitante também poderá explorar informações sobre Graffiti e desfrutar de instalações tecnológicas e peças inéditas, além de um vagão educativo para mediação e imersão.
SERVIÇO
Exposição: HIP-HOP 80’sp – São Paulo na Onda do Break
Curadoria: OSGEMEOS, Rooneyoyo O Guardião, KL Jay, Thaíde, Sharylaine, ALAM Beat e Rose MC
Período expositivo: 24 de julho de 2025 a 29 de março de 2026
Horário de funcionamento: terça a sábado, das 9h às 21h; domingos e feriados, das 9h às 18h
Local: Sesc 24 de Maio – Rua 24 de Maio, 109 – República, São Paulo (SP)
Entrada: Gratuita
Realização: Sesc São Paulo
Organização: OSGEMEOS, Ori Arerê Arte & Cultura, Buenavista, Naja Produções
Produção executiva: Camila Miranda e Ricardo Samelli
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