Luiz Melodia é homenageado em documentário e novos projetos com material inédito

Jane Reis, viúva do cantor e compositor Luiz Melodia, tem se dedicado a preservar e celebrar a obra do artista desde sua morte em 2017. Após cuidar de seus pais adoentados na Bahia, ela decidiu explorar os arquivos de Melodia para desenvolver pelo menos três projetos que homenageiem sua trajetória. Jane compartilhou poemas e gravações com o cantor Pedro Luís e o produtor Kassin, enquanto um profissional trabalha na decupagem de fitas e gravações deixadas por Melodia. "Ele escrevia e nunca estava satisfeito, então jogava grande parte do trabalho no lixo", revela Jane.

O documentário "Luiz Melodia — No coração do Brasil", dirigido por Alessandra Dorgan e Patrícia Palumbo, estreia hoje em várias cidades brasileiras. O filme, que já conquistou prêmios em festivais, apresenta Melodia contando sua própria história e interpretando cerca de 30 canções marcantes de sua carreira. Alessandra destaca a surpresa positiva em ver o filme, feito com orçamento reduzido, ganhando espaço nas salas de cinema, especialmente em um momento desafiador para a cultura no Brasil.

Patrícia Palumbo, que também atuou como diretora musical, utilizou uma entrevista de 2h30 com Melodia, realizada em 2000, como base para o filme. "Tinha que ser em cima de escolhas, opções de carreira", explica. A produção optou por não incluir depoimentos de terceiros, focando nas imagens de arquivo e nas falas do artista para contar sua história. O filme busca retratar a época e a cena artística em que Melodia se destacou, utilizando registros de shows e apresentações na TV.

O olhar feminino e materno de Jane Reis sobre Melodia é evidente ao longo do documentário. Ela reflete sobre as dificuldades que o artista enfrentou e como a estrutura familiar que construíram juntos lhe deu força. Patrícia Palumbo ressalta a importância de "No coração do Brasil" para mostrar a relevância de uma obra que muitas vezes ficou à margem, destacando a trajetória de Melodia como um exemplo de deslocamento cultural e artístico. "O Brasil não suporta esse tipo de deslocamento e faz de tudo para que isso não aconteça", conclui.