Marco Pigossi brilha em ‘Maré alta’, filme dirigido por seu parceiro, Marco Calvani

Lourenço (Marco Pigossi) é um brasileiro que busca liberdade para viver sua sexualidade, deixando para trás uma cidade com padrões morais ultrapassados. Em Provincetown, Massachusetts, ele se encontra com Maurice (James Bland), que, apesar de ter um círculo de amigos acolhedor, enfrenta a realidade de práticas racistas veladas. A relação intensa entre os dois protagonistas explora temas como racismo, imigração e a pressão de um fervor religioso repressivo, refletindo suas experiências de integração e deslocamento.

O diretor Marco Calvani combina a subjetividade dos personagens com questões sociais relevantes, embora, em alguns momentos, a inserção desses temas no roteiro pareça um tanto forçada, especialmente nas cenas que abordam o racismo. Apesar disso, o filme se destaca pela sua condução segura e pelas contribuições artísticas significativas, como a fotografia de Oscar Ignacio Jiménez, que valoriza os corpos sem ser invasiva, e a trilha sonora de Sebastian Plano, que complementa a narrativa de forma sutil.

O elenco, que inclui Marisa Tomei e Bill Irwin, apresenta atuações sólidas, mas é a interpretação de Pigossi que se destaca. Ele retrata a vulnerabilidade de seu personagem com sutileza, oscilando entre momentos de introspecção e extravasamento emocional. Essa complexidade emocional é um dos pontos altos do filme, que consegue capturar a luta interna de Lourenço em meio a suas crises pessoais.

Em suma, o filme aborda questões contemporâneas de forma envolvente, utilizando a relação entre Lourenço e Maurice como um microcosmo das dificuldades enfrentadas por imigrantes e minorias. A narrativa, embora com algumas falhas na abordagem de certos temas, oferece uma reflexão importante sobre a busca por aceitação e identidade em um mundo que muitas vezes é hostil.