Chinelos viraram tendência na semana de moda mais cool da Europa

Poucas peças traduzem tão bem o estilo de vida brasileiro quanto o chinelo de dedo. Democrático, barato e confortável, ele sempre foi presença garantida na praia, no shopping e até no rolê. Agora, o que já foi visto no exterior como “desleixado” reina absoluto no verão europeu, e não só no look pós-praia.

Enquanto brasileiros muitas vezes buscam seguir tendências de fora, parece que a moda da vez para o outro lado do Atlântico é inspirar-se aqui. Havaianas e suas primas fashion surgiram como peça-chave até na Copenhagen Fashion Week, misturadas a produções sofisticadas e looks de passarela.

Passarela ou calçadão?

Durante a semana de moda dinamarquesa, o som característico do thwack da borracha virou quase trilha sonora oficial das ruas. Entre os fashionistas, dois estilos dividiram opiniões: o do chinelo flat clássico, à la Havaiana raiz, e o do modelo com salto baixo, na versão “Scandi chique”, muitas vezes em couro e com estética minimalista. A proposta é brincar com contrastes: flip-flops com vestido de seda, com terno oversized e até por cima de meias coloridas ou transparentes.

A polêmica da “gentrificação”

Nem todo mundo embarcou na euforia. Vídeos de influenciadores usando o calçado com legendas como “no melhor estilo Copenhagen” geraram incômodo entre brasileiros. A crítica é direta: algo que sempre foi usado no Brasil — e, por vezes, alvo de preconceito fora daqui — agora recebe o selo “fashion” só porque apareceu na Europa. Influenciadoras como Rebeca Oksana (@rebecaoksana), Carolina de Castro (@carolinadecastro) e Beatriz Barbosa (@beatrizbarbosalm) responderam postando suas Havaianas “à brasileira” e lembrando que, de havaiana, só tem o nome. A marca nasceu em 1962, criada e patenteada pela fabricante brasileira Alpargatas S.A., e carrega o simbolismo da bandeirinha do Brasil estampada nas tiras.

Aqui, sempre foi moda

A ascensão global das Havaianas não começou agora. A marca já lançou colaborações com Dolce & Gabbana e Gigi Hadid, e se prepara para apresentar seu primeiro modelo 3D-printed na próxima edição da Copenhagen Fashion Week. O que antes custava poucos reais na farmácia da esquina agora divide espaço com vitrines de luxo e malas de viagem de quem busca um visual “cool sem esforço”.

Se por um lado é motivo de orgulho ver um ícone nacional ganhar o mundo, por outro, o debate sobre apropriação e crédito cultural continua. Afinal, no Brasil, o chinelo sempre foi moda — com ou sem aprovação europeia.