- A autora colombiana Fátima Vélez, baseada em Nova York, apresenta um romance sobre a peste que inverte o Decameron, com infectados que se escondem a bordo de um barco chamado Bumfuck.
- A tripulação a bordo troca histórias todas as noites, variando entre temas políticos e eróticos, em meio ao avanço da decomposição dos corpos.
- O texto faz diversas referências literárias e históricas, incluindo a Bíblia, Aeolus, Tiresias e diários de Charles Darwin.
- Os banquetes a bordo destacam pratos como ceviche de polvo, ovos de tartaruga e leitão, enquanto a fauna das Galápagos desperta fascínio, com a ideia de a natureza “cross-dressed”.
- A narrativa situa-se no fim dos anos oitenta e início dos noventa, com a AIDS como pano de fundo, e menciona Lorenzo retornando à Colômbia ligado aos guerrilheiros do M-19; a tradutora Hannah Kauders comenta a experiência de leitura.
O romance de Fátima Vélez, autora colombiana radicada em Nova York, reverte o Decameron ao colocar os infectados no papel de quem se esconde a bordo de um barco chamado Bumfuck. A obra retorna com uma leitura sombria ambientada no fim dos anos 80 e início dos 90, época da AIDS como pano de fundo. A narrativa dialoga com referências bíblicas, mitologia e diários de Darwin.
A tripulação mergulha em banquetes extravagantes enquanto os corpos se deterioram. Ceviche de polvo, ovos de tartaruga e leitão compõem um cardápio opulento que contrasta com o avanço da doença. A deterioração física acompanha a perda de fôlego dos personagens.
Temas e referências
Os trechos da Galápagos aparecem como cenário de curiosidade sobre a fauna, incluindo observações sobre o comportamento de aves com sensações de “cross-dressing” na natureza. O texto também utiliza digressões históricas para discutir política de passagem, sem foco central.
Lorenzo retorna à Colômbia em razão de guerrilheiros do M-19, após episódios em Dresden. A decisão é apresentada como reflexão sobre possibilidades de ação frente a conflitos, ainda que o retorno seja posteriormente abortado pela percepção de limitações.
Temas centrais
A narrativa vincula a doença ao tempo, questionando o que resta quando o corpo não tem mais tempo. O foco está na experiência sensorial e emocional dos viajantes diante da pandemia, indo além de uma simples cronologia de eventos. A obra questiona a relação entre memória, tempo e mortalidade.
A tradutora Hannah Kauders comenta a experiência de leitura, destacando que a passagem pela Galápagos impõe uma reflexão sobre o luto. A leitura, segundo Kauders, busca provocar sensação constante de inquietude na audiência.