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Reality shifting: você pode mesmo viver em outra realidade?

Técnica que viralizou no TikTok promete transportar a consciência para universos alternativos

Imagem gerada por IA

Muitos jovens sonham em viver em universos fictícios, como Hogwarts ou ao lado de personagens de séries. Esse desejo se tornou realidade com o fenômeno chamado *reality shifting*, que ganhou popularidade no TikTok durante a pandemia. A ideia é transferir a consciência para uma realidade desejada, usando técnicas de meditação e visualização. Os praticantes acreditam que podem coexistir em múltiplas realidades, inspirados por conceitos da física quântica. O shifting é um exercício de imaginação guiada, onde a pessoa foca para “deslocar” sua consciência para um lugar idealizado. Além de ser uma forma de escapismo, muitos usam essa prática para melhorar a autoestima e a saúde mental. A técnica envolve escrever roteiros detalhados, ouvir músicas específicas e meditar. O TikTok é o principal espaço onde essa prática se espalhou, com tutoriais e experiências compartilhadas. Para a Geração Z, o shifting é uma resposta criativa a um mundo caótico, funcionando como um refúgio e uma forma de autoconhecimento. Críticos alertam sobre o risco de escapismo, mas outros veem valor na introspecção que a prática pode proporcionar.

Você já quis acordar em Hogwarts, dividir um café com os personagens de “Friends” ou viver um romance com seu crush fictício preferido? Para milhões de jovens, esse desejo deixou de ser pura fantasia e virou prática cotidiana — com tutorial, playlist e até teoria quântica. É o chamado *reality shifting*, fenômeno que explodiu no TikTok durante a pandemia e hoje mobiliza comunidades inteiras na internet.

A promessa é tentadora: transferir sua consciência para uma realidade desejada, seja ela um universo fictício ou uma versão idealizada da própria vida. A técnica mistura meditação, visualização guiada e até script. Para uns, é escapismo; para outros, ferramenta de autoconhecimento.

**Da física quântica a tradições ancestrais**

Um dos conceitos mais citados entre os entusiastas do shifting é o da superposição quântica — que, em termos simples, sugere que uma partícula pode existir em diferentes estados ao mesmo tempo. Transpondo isso para a consciência, a ideia seria de que também poderíamos *coexistir* em múltiplas realidades. É justamente nesse tipo de possibilidade que o shifting se apoia: se há infinitas versões da realidade, por que não tentar acessar uma delas com a mente?

Além da física, outro conceito recorrente é o efeito do observador, que na física propõe que o simples ato de observar uma partícula altera seu comportamento. No shifting, essa teoria inspira a noção de que a nossa atenção (ou intenção) tem o poder de moldar a realidade.

O fenômeno dialoga com outras práticas milenares de alteração da consciência. Técnicas como meditação, respiração ativa, sonhos lúcidos, viagens astrais, todas partem da mesma premissa: a de que nossa percepção pode se expandir para além da matéria. Em comum, está a busca por uma percepção ampliada de si e do mundo, ainda que, para alguns, a motivação seja só encontrar Harry Styles no corredor de uma escola britânica fictícia.

**O que é reality shifting, afinal?**

Apesar do nome complexo, o *reality shifting* é, na essência, um exercício de imaginação guiada. A prática consiste em concentrar a mente a ponto de “deslocar” a consciência da chamada *current reality* (realidade atual) para uma *desired reality* (realidade desejada). É como se fosse um sonho lúcido consciente, com data, hora e local marcados: você decide para onde vai, com quem vai estar e como vai se sentir.

E para além da fanfic, há quem use a técnica para imaginar uma realidade com mais paz, saúde e autoestima — um exercício de cura tanto quanto de fantasia. Para os praticantes (conhecidos como *reality shifters*), a experiência pode parecer tão vívida quanto a vida real.

Na prática, o processo envolve várias técnicas: escrever um *script* detalhado sobre a realidade desejada (como se fosse o roteiro de um filme), ouvir áudios de afirmações positivas, meditar, repetir mantras e visualizar cenários com o máximo de detalhes. Há até posições específicas para dormir, como a chamada *starfish position* (posição da estrela-do-mar), indicada para facilitar o transe. Cada pessoa encontra seu próprio ritual, mas a lógica é a mesma: preparar o corpo, silenciar a mente e abrir caminho para a travessia.

**O shifting como experiência coletiva**

Se o *reality shifting* tem um território, ele se chama TikTok. Foi lá, ainda durante a pandemia, que a prática ganhou fôlego e virou febre entre usuários de todo o mundo. Com tutoriais, experiências narradas em primeira pessoa e até vídeos “pov” em que a pessoa acorda em outra realidade, a hashtag #realityshifting ultrapassa os 4 bilhões de visualizações. Mas o fenômeno não se limita ao algoritmo: ele se espalhou por fóruns, contas no YouTube, canais no Discord e comunidades inteiras no Reddit.

Para dar suporte a essas jornadas, os shifters criam diários de bordo, onde registram tudo o que viveram — como se fossem exploradores de realidades alternativas. Outro elemento central são as trilhas sonoras. Há playlists inteiras no Spotify, YouTube e TikTok feitas especialmente para “ancorar” a experiência, com sons binaurais, white noise e até músicas temáticas de filmes e séries. Essas faixas ajudam a induzir um estado mental relaxado, quase hipnótico, ideal para quem quer atravessar a linha entre realidades.

Os vídeos com dicas também não param de crescer: há quem ensine a escrever scripts complexos com detalhes como horário, clima, idioma e até cheiros da realidade desejada. Outros mostram técnicas de respiração, posições para dormir ou o que fazer se a mente “sair do trilho” no meio do processo.

**O dilema entre fugir e se encontrar**

Para muitos adultos, o *reality shifting* pode parecer só uma moda passageira, uma fantasia digital. Mas, para uma parcela da Geração Z, ele representa algo mais profundo — uma resposta criativa a um mundo cada vez mais caótico, ansioso e difícil de habitar.

Crescida em meio a crises globais, hiperconexão e sobrecarga de informações, essa geração transformou o imaginário em refúgio. E o shifting, para jovens que vivem imerso em cultura pop, RPG, fanfics e universos paralelos, vira tanto válvula de escape quanto espaço de reinvenção.

Críticos apontam que a prática pode incentivar o escapismo, uma tentativa de fugir da realidade ao invés de enfrentá-la. Mas há quem veja no shifting um exercício de introspecção, uma forma de visualizar metas, reorganizar sentimentos ou até expandir a criatividade. Afinal, construir mentalmente uma realidade desejada exige autoconhecimento, foco e sensibilidade para entender o que, de fato, se deseja viver.

Mais do que tentar provar se o reality shifting “é real” ou não, talvez o ponto esteja na experiência subjetiva. Se uma prática te ajuda a relaxar, imaginar, refletir ou encontrar algum conforto no meio do caos — ela já tem valor. E, no fim das contas, seja acordando em Nárnia ou só se reconectando com o agora, talvez a pergunta mais honesta que o shifting nos propõe seja: em que realidade você gostaria de estar vivendo? E o que você vai fazer para alcançar isso?

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