- Todas as onze ararinhas-azuis que viviam na natureza testaram positivo para circovírus, conforme confirmação do Ministério do Meio Ambiente nesta terça-feira, com diagnósticos feitos em aves recapturadas no início de novembro.
- A recaptura ocorreu em dois de novembro, após decisão judicial, e a BlueSky, empresa que administra o criadouro em Curaçá, enfrenta multa de R$ 1,2 milhão por falhas de biossegurança.
- O circovírus é patógeno crônico e geralmente fatal para psitacídeos, causando sinais como embranquecimento de penas e deformidades no bico; a origem da cepa ainda é debatida entre autoridades e especialistas.
- O caso aumenta as tensões entre o governo, a ACTP (ONG alemã) e o criadouro, e levanta dúvidas sobre a viabilidade do programa de reintrodução da ararinha-azul, que já depende de cuidados em cativeiro.
- A crise sanitária levou inspeções ao criadouro, com coleta de amostras de aves, e reforçou preocupações sobre a biossegurança, potencial disseminação para outras espécies e impactos sobre a população total da espécie.
A confirmação de que as 11 ararinhas-azuis que ainda viviam na natureza estão infectadas com circovírus foi anunciada pelo Ministério do Meio Ambiente nesta terça-feira. Os diagnósticos foram feitos após a recaptura das aves, ocorrida em 2 de novembro, em mutirama de Curaçá (BA). A notícia acende alerta sobre o andamento do programa de reintrodução, que já enfrentava tensões entre governo, a ONG alemã ACTP e a empresa responsável pelo criadouro.
O circovírus é responsável pela doença do bico e das penas, doença crônica e geralmente fatal para psitacídeos. Entre os sintomas estão embranquecimento das penas e deformidades no bico. A origem da cepa é discutida: especialistas apontam que a variante descrita na Austrália não era registrada em vida livre no Brasil, sugerindo possível contaminação interna no criadouro.
A Agência Ambiental destaca que, após a recaptura, foi aplicada uma multa de R$ 1,2 milhão à BlueSky, empresa que administra o criadouro privado em Curaçá, por descumprimento de normas de biossegurança. A BlueSky havia resistido à recaptura, argumentando que a retirada das aves poderia comprometer o projeto de reintrodução.
Contexto da crise
A reintrodução da ararinha-azul começou em 2020, após acordo entre o governo e a ACTP, que detinha grande parte da população. Hoje, a ACTP controla cerca de 75% das 328 aves existentes, com o restante em criadouros sob gestão pública ou privada. Em 2025, surgiram sinais de contágio que ampliaram o debate sobre biossegurança e transparência de laudos laboratoriais.
As autoridades dizem que o vírus pode já ter circulado no criadouro por algum tempo. Em setembro, o ICMBio, com apoio da Polícia Federal, voltou ao local para reforçar a coleta de amostras e revisar protocolos. Foram coletados sangue, fezes e penas de 92 ararinhas, além de amostras de dois maracanãs que mantêm interação com as araras.
A situação atual complica o futuro da espécie em vida livre, visto que a proximidade entre aves doentes e saudáveis dentro do criadouro que abriga mais de 90 ararinhas aumenta o risco de novas contaminações. Autoridades ressaltam a necessidade de reforçar biossegurança e transparência nos laudos técnicos.