- O conjunto halafiano, entre aproximadamente 6200 e 5500 a.C., traz representações organizadas de plantas na cerâmica, o mais antigo conjunto conhecido desse tipo na arte pré-histórica.
- Pesquisadores analisaram milhares de fragmentos de cerâmica de 29 sítios no norte do Iraque, Síria e sudeste da Turquia, identificando imagens de flores, arbustos, ramos e árvores.
- As flores aparecem com pétalas distribuídas de forma simétrica; números 4, 8, 16 e 32 se repetem, indicando raciocínio matemático visual anterior à escrita.
- A observação sugere que esse repertório vegetal pode ter função prática de organizar espaços e quantidades, e não apenas rituais ou alimentares.
- O estudo, publicado no Journal of World Prehistory, contribui para o debate sobre as origens da matemática no Oriente Médio, antes dos sistemas numéricos formais associados à Suméria.
Um estudo divulgado pelo Journal of World Prehistory revisita o papel das plantas na arte da cultura halafiana, que prosperou entre 6200 e 5500 a.C. no norte da Mesopotâmia. Pesquisadores analisaram milhares de fragmentos cerâmicos de 29 sítios, ampliando o conhecimento sobre a representação vegetal na pré-história.
Os arqueólogos Yosef Garfinkel e Sarah Krulwich, da Universidade Hebraica de Jerusalém, identificaram centenas de imagens de flores, arbustos, ramos e árvores em cerâmicas halladas no atual Iraque, Síria e sudeste da Turquia. A presença dessas temáticas é ampla e segue regras visuais semelhantes, sugerindo uma tradição artística compartilhada.
Os halos de plantas aparecem com mais frequência em tigelas, potes e jarros decorados há mais de 8 mil anos. As flores dominam as representações, com pétalas dispostas de modo simétrico e repetição de padrões numéricos visuais.
Principais achados
As pétalas das flores seguem uma progressão simples: 4, 8, 16 e 32, indicando divisão de espaço de forma equilibrada antes da escrita. Os autores destacam que esse raciocínio visual pode ter aplicação prática no cotidiano, como divisão de colheitas ou terras em aldeias halafianas.
A pesquisa classifica as imagens em quatro categorias: flores, arbustos, ramos e árvores. Curiosamente, plantas de grande porte e ornamentais aparecem com mais frequência do que cereais ou frutos, sugerindo foco visual e conceitual, não exclusivamente alimentar.
A distribuição geográfica abrange quase todo o território halafiano conhecido, do leste ao oeste da Mesopotâmia setentrional. Em sítios com menos escavação, a ausência de imagens não é interpretada como diferença cultural, mas como tamanho das áreas investigadas.
Entre os dados, estima-se que cerca de 4% a 6% das cerâmicas decoradas apresentem esses temas, um percentual considerado significativo diante da padronização observada.
Implicações
O estudo discute origens da matemática no Oriente Médio antigo, contrastando com os primeiros textos matemáticos da Suméria, por volta de 3000 a.C., que já utilizavam um sistema numérico complexo baseado no número 60. Os padrões halafianos sugerem uma etapa anterior, centrada na simetria e na divisão do espaço sem sistemas formais.
Para Garfinkel e Krulwich, esses achados indicam formas iniciais de pensamento matemático, ancoradas na visualização de quantidades e na organização espacial, muito antes de números escritos ou cálculos abstratos. Essas evidências destacam a presença de raciocínio geométrico na vida cotidiana de comunidades neolíticas.
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