Em Alta NotíciasConflitoseconomiaFutebolrelações internacionais

Converse com o Telinha

Telinha
Oi! Posso responder perguntas apenas com base nesta matéria. O que você quer saber?

Comunidades do Congo constroem corredor de biodiversidade de 1 milhão ha

Corridor de biodiversidade de um milhão de hectares avança na RDC, unindo parque e reserva por concessões comunitárias, mesmo com o choque de conflitos armados

Telinha
Por Revisado por: Time de Jornalismo Portal Tela
Journey by pirogue for members of the Baliga community to participate in community meetings in April 2023.
0:00 0:00
  • Comunidades da região estão formando um corredor de biodiversidade de 1 milhão de hectares entre o Parque Nacional de Kahuzi-Biega e a Reserva Natural Itombwe, na República Democrática do Congo.
  • O projeto já está mais da metade do caminho, mesmo com o conflito em curso entre o governo e o grupo armado M23, que tem atrasado os avanços.
  • A iniciativa usa concessões florestais comunitárias (CFCL) para formalizar terras a favor das comunidades, com manejo sustentável e proteção da fauna local.
  • Ao todo, já foram asseguradas 23 concessões comunitárias, cobrindo quase 600 mil hectares; o objetivo é conectar habitats e reduzir conflitos entre pessoas e animais.
  • O movimento também busca reparar injustiças históricas, incluindo o deslocamento de povos indígenas como os Batwa, ao mesmo tempo em que fortalece a conservação da gorila-centro (Grauer’s gorilla) e a biodiversidade regional.

Dominique Bikaba dirige uma iniciativa de conservação que busca ligar o Kahuzi-Biega National Park, no sudeste da República Democrática do Congo, ao Itombwe Nature Reserve, por meio de um corredor de 1 milhão de hectares. O projeto envolve comunidades locais e vida selvagem, com foco em gorilas da espécie Grauer’s. A meta é manter a conectividade entre os ecossistemas e favorecer meios de subsistência sustentáveis para a população.

A organização de Bikaba, Strong Roots Congo, atua com o apoio de Rainforest Trust e Biome Conservation. A estratégia é transformar terras com ocupação tradicional em concessões florestais comunitárias, garantindo posse perpétua às comunidades. O objetivo é unir proteção ambiental e melhoria de vida, por meio de manejo sustentável. Ao longo do tempo, já foram asseguradas 23 concessões, correspondentes a quase 600 mil hectares.

O projeto enfrenta o contexto de conflitos no leste do país, com o ressurgimento do grupo M23, que tem dificultado avanços. Mesmo assim, autoridades locais acolhem a ideia de conectar geneticamente os sítios protegidos, fortalecendo a biodiversidade e as populações de espécies que dependem das duas áreas.

Construção do corredor e base legal

As florestas são geridas sob dois regimes: a lei moderna congolesa, que atribui às florestas públicas o status de patrimônio estatal, e o direito consuetudinário, que reconhece a posse pelas comunidades. A ponte entre esses mundos ocorreu com as concessões florestais comunitárias (CFCL), abertas a comunidades que reconhecem terras tradicionalmente.

O processo começa com o mapeamento participativo, que delimita territórios e incorpora o conhecimento local. Em seguida, há assembleias comunitárias para reafirmar o interesse e a formalização do pedido junto ao governo. Após aprovação do chefe local, o documento avança para o governo provincial, com prazos de transparência para eventual contestação.

Para a implementação, o governo estadual recebe apoio financeiro para emitir decretos de concessão. Estudos socioeconômicos e inventários orientam planos de manejo simples, já em curso em comunidades com CFCL aprovadas. A iniciativa busca reduzir conflitos e ampliar a presença de comunidades na gestão da paisagem.

Percepções e impactos

O diretor de Kahuzi-Biega, Arthur Kalonji, vê na rede de CFCL um potencial de proteção ampliada, com zonas-tampão que delimitam o parque e permitem o retorno de atividades humanas sem promover invasões. O envolvimento de líderes consuetudinários reforça a sensação de responsabilidade local e a redução de conflitos entre comunidades vizinhas.

Entre os benefícios citados estão a proteção de povos indígenas diante de pressões de terceiros, como investidores e mineradoras, e a ampliação de oportunidades econômicas locais com culturas adequadas à região de convivência com a fauna, como café e amendoim no entorno das áreas protegidas.

Entretanto, a implementação encontra resistência entre algumas lideranças locais, que afirmam que mudanças nas práticas tradicionais ocorreram com o corredor, afetando rituais e costumes de comunidades indígenas. A tensão entre conservação, identidade cultural e direitos territoriais permanece como desafio.

Contexto humano e regional

O projeto nasce em meio a uma história de deslocamentos ligados à criação do parque. Muitos membros das comunidades afetadas contam com a resiliência para manter modos de vida que estavam consolidados antes da delimitação de áreas protegidas. A situação é agravada por décadas de conflito envolvendo as forças locais e estrangeiras na região.

A equipe de Strong Roots Congo relata que a região abrange áreas de floresta densa, com importância vital para gorilas de Grauer, uma população vulnerável. A atuação comunitária visa reverter danos históricos, promovendo uma gestão compartilhada que represente tanto a fauna quanto os direitos de moradia das populações tradicionais.

Apesar dos obstáculos, a organização mantém o compromisso de avançar com a formalização de terras para comunidades, combinando conservação com melhoria de condições de vida. O objetivo é consolidar um corredor que conecte habitats críticos, fortalecendo a resiliência ambiental e social na região.

Comentários 0

Entre na conversa da comunidade

Os comentários não representam a opinião do Portal Tela; a responsabilidade é do autor da mensagem. Conecte-se para comentar

Veja Mais