- Estudo em Simangani, no noroeste da Zimbabwe, indica que 88% dos residentes apoiariam carcaças ou translocação de elefantes se não houvesse benefício, e 92% não manteriam conservação sem ganho financeiro.
- Programas governamentais e de ONGs promovem conhecimento sobre comportamento de elefantes e cultivo de pimenta vermelha, mas cercas físicas continuam caras e pouco acessíveis para a maioria.
- A IFAW usa rastreamento por satélite e o sistema EarthRanger para monitorar cerca de 200 elefantes, com alertas por SMS/WhatsApp para agricultores próximos às bordas do parque Hwange.
- Areias com jardins cercados de um hectare próximos a Hwange beneficiam 166 famílias, com água fornecida por poços, reduzindo contatos entre pessoas e elefantes.
- Iniciativas regionais de coexistência incluem Ecoexist Trust no Okavango Panhandle (Botsuana) e EHRA em Namíbia, com estratégias como fazendas “elefante-consciente”, corredores mapeados e uso de energia solar para cercas.
Elefantes e agricultores do sul da África: caminhos para coexistir
Num vilarejo de Simangani, no noroeste do Zimbabwe, os elefantes são vistos como totem sagrado, mas também depredam plantações na época da colheita. Estudo de Agripa Ngorima mostra que, sem benefícios diretos, 88% dos moradores apoiariam abates ou translocações; com ganhos para a renda, esse apoio cai para 20%. Outros 92% não participariam de ações de conservação sem retorno financeiro claro.
A pesquisa, desenvolvida durante trabalho de campo em 2018, aponta falhas na implementação de medidas de proteção. Programas educativos sobre comportamento animal e cultivo de pimenta vermelha foram introduzidos, mas a proteção física das lavouras, como cercas, continua inacessível para a maioria das famílias.
A região tem enfrentado pressões crescentes de conflito entre humanos e felinos. Quando há invasões, rangers costumam responder com ações contra os animais, aumentando o clamor por controle populacional. O recenseamento aéreo de 2022 estimou cerca de 61 mil elefantes na área.
Geofences ajudam a prever movimentos
Conservacionistas usam cercas virtuais, coleiras de rastreamento e aplicativos para antecipar passagens de elefantes. Em Hwange, perto de Simangani, 16 adultos foram collarizados e monitorados de forma a cobrir cerca de 200 indivíduos em várias comunidades. Em novembro, mais oito elefantes foram equipados com transmissores.
O sistema EarthRanger envia alertas por SMS e WhatsApp quando um grupo se aproxima de uma geofence, permitindo que agricultores acionem medidas de dissuasão, como fogo, iluminação ou apoio de guardas do parque. Apesar de em estágio inicial, a ferramenta busca reduzir conflitos ao facilitar a convivência.
A ideia é deslocar parte da população para áreas com menor densidade de elefantes, como a região de Sebungwe, no norte de Hwange, onde há menos de 3.500 animais mapeados em 2022. O monitoramento por satélite permite acompanhar deslocamentos e orientar as comunidades.
Iniciativas para comunidades próximas a Hwange
Entre as ações locais, estão quatro jardins cercados por cercas que protegem 166 famílias, com água fornecida por poços. Além de reduzir o contato com onças e hipopótamos, as áreas seguras facilitam o acesso a água em locais protegidos.
O contexto de proteção está ligado à Área de Conservação Transfronteiriça KAZA, que abrange mais de 50% dos elefantes restantes da savana africana. O território abriga cerca de 3 milhões de pessoas que dependem da agricultura para subsistência.
Experiências em Botswana e Namíbia
Em Botswana, Ecoexist Trust promove estratégias de convivência envolvendo corredores de elefantes e culturas agrícolas adaptadas. O programa eleva a renda de produtores certificados que participam de práticas para evitar danos, com apoio a mercados de maior valor.
Na Namíbia, a EHRA implementa 180 geofences para proteger vilarejos de ataques noturnos. Conservação de elefantes e segurança das comunidades caminham juntas, com monitoramento satelital para reduzir perdas de lavouras e riscos à população.
Benefícios da convivência tecnológica
Relatos de sucesso indicam menor exposição de mulheres e crianças a conflitos diretos, melhor aproveitamento de recursos hídricos com fontes solares e menor necessidade de retaliação contra animais. A coordenação entre comunidades, ONGs e autoridades aumenta a segurança e a tolerância mútua.
Especialistas destacam que políticas de manejo devem considerar a densidade populacional de elefantes e de pessoas, bem como incentivos econômicos para agricultores adotarem práticas de convivência. O objetivo é reduzir danos, aumentar a produção e preservar a fauna em áreas de alto conflito.
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