- O ciclone Ditwah deixou cerca de 650 mortos e pelo menos 200 desaparecidos, atingindo Sri Lanka desde 28 de novembro e passando até 2 de dezembro.
- Em Jaffna, trechos da costa exibiram uma espuma branca similar a neve, fenômeno natural causado pela agitação do mar após tempestades intensas, segundo cientistas.
- A água pluvial atingiu volumes extraordinários: estima-se quase 13 bilhões de metros cúbicos de chuva em vinte e quatro horas, com taxa de descarga de aproximadamente 150.463 m³ por segundo.
- Mais de 140 quilômetros de litoral foram afetados pela poluição ligada ao Ditwah, principalmente próximo a desembocaduras de rios, com limpeza complexa e demorada.
- Além de sedimentos e poluição, houve influxo de nutrientes que podem provocar florescimentos de fitoplâncton e impactar recifes, pesca e ecossistemas costeiros; o calor, salinidade e variações rápidas também podem estressar corais.
O ciclone Ditwah atingiu Sri Lanka em 28 de novembro, deixando cerca de 650 mortos e mais de 200 desaparecidos. O vendaval ganhou força ao tocar o território, gerando inundações, deslizamentos e danos generalizados. A passagem ocorreu até 2 de dezembro, quando a tempestade se deslocou, deixando para trás silêncio, escombros e luto em várias regiões.
Na costa de Jaffna, no norte do país, a volta do sol revelou uma visão incomum: manchas brancas semelhantes a espuma no litoral. Moradores narraram ter visto pela primeira vez o fenômeno, que provocou espanto, especialmente entre as crianças. Especialistas afirmam que não se tratou de contaminação, mas de uma resposta natural do oceano a condições extremas.
Espuma no mar: explicação natural
A espuma marítima pode se formar após tempestades intensas e ventos fortes, segundo especialistas. O fenômeno ocorre quando algas microscópicas e plankton produzem compostos orgânicos que atuam como surfactantes naturais; as ondas prendem ar nesses compostos, acumulando espuma ao longo da orla.
Disparo de água e consequências hidrológicas
A chuva intensa causada pelo Ditwah foi particularmente expressiva. Estima-se que, em 28 de novembro, o Sri Lanka tenha recebido quase 13 bilhões de metros cúbicos de água em 24 horas, o que representa cerca de 10% da média anual do país. O solo saturado reduziu a absorção, aumentando o escoamento para rios e o transporte de água para o mar.
O professor Lakshman Galagedara, da Memorial University, calcula uma taxa de descarga de aproximadamente 150.463 m3 por segundo. Em comparação, o Amazonas, com uma bacia muito maior, tem média de 222.000 m3/s, segundo o pesquisador. A análise reforça como chuvas intensas em uma ilha de tamanho reduzido geram escoamento desproporcionalmente intenso.
Rios como Mahaweli e Kelani levaram o excedente de água ao oceano. Imagens de satélite mostraram grandes volumes de água doce atingindo as áreas costeiras durante o pico do ciclone.
Sedimentos, salinidade e recifes
Especialistas alertam para a sedimentação excessiva, que pode suffocar recifes de coral e, com o tempo, favorecer o branqueamento. A ausência de estações de monitoramento de sedimentos em foz de rios limita a quantificação de erosões associadas a deslizamentos e aos impactos sobre ecossistemas costeiros.
Também há preocupação com o estresse salino provocado pela mistura de água doce com água do mar. Mudanças abruptas na salinidade podem desencadear respostas de branqueamento em corais, segundo especialistas, que ressaltam a necessidade de mais pesquisas no país.
Apesar disso, ventos do monção no leste e norte devem movimentar as águas, ajudando a dispersar o claro incremento de água doce e diluir sedimentos. Pesquisadores esperam que os processos naturais reduzam, parcialmente, os impactos sobre os habitats coralíneos.
Poluição e resíduos lavados pela chuva
As enchentes Arrastaram resíduos de terra para o Oceano Índico, incluindo plásticos, fragmentos de construção e itens descartados. Partes ainda não biodegradáveis podem permanecer por décadas, fragmentando-se em microplásticos e afetando praias, recifes e áreas de mangue.
Conforme o presidente da Autoridade de Proteção Ambiental Marinha, mais de 140 km de litoral foram atingidos pela Polluição associada a Ditwah, com necessidade de grande mobilização para limpeza. A transmissão de resíduos permanece como um desafio a longo prazo para ecossistemas costeiros.
Impulso de nutrientes e produtividade oceânica
O ciclone também trouxe uma grande carga de nutrientes para as águas costeiras, incluindo nitrogênio e fósforo. Esse influxo pode provocar blooms de fitoplâncton e alterar a produtividade, com efeitos que variam de aumento de biomassa a risco de depleção de oxigênio em zonas com circulação limitada.
Observações de atividades pesqueiras pós-Ditwah indicaram maior agregação de peixes em algumas áreas, possivelmente associada ao aumento de plâncton. Contudo, blooms podem favorecer algas nocivas em baías e lagoas, exigindo monitoramento contínuo.
A relação entre eventos extremos e o envio de nutrientes para o oceano destaca a necessidade de monitoramento do fluxo de sedimentos, água doce e poluentes, para entender impactos sobre pesca, recifes e qualidade das águas.
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