Vila Madalena se transforma em 'rio' após chuvas intensas e provocações urbanísticas

Os transtornos provocados pelas chuvas em São Paulo, que resultaram na morte de Rodolpho Tamanini Netto, de 73 anos, e na inundação do Beco do Batman, são recorrentes na Vila Madalena. Segundo Carlos Medina, sobrinho de Rodolpho, a casa do tio sempre enfrentou alagamentos, e ele havia sido alertado a não descer para o térreo em situações de risco. O professor de arquitetura Valter Caldana descreve a Vila Madalena como uma "caricatura dos problemas de São Paulo com a chuva", devido à sua topografia irregular e à presença de nascentes.

O temporal de 24 de janeiro, considerado o terceiro mais intenso da história da cidade, deixou a Vila Madalena devastada, com água alcançando até três metros de altura. Caldana explica que a inclinação das ladeiras acelera o fluxo da água, que se acumula nas áreas mais baixas e é direcionada para a rede subterrânea, que não consegue drenar adequadamente. Ele compara a situação a carros descendo uma ladeira sem freio, congestionando os rios que deveriam absorver essa água.

A impermeabilização excessiva na Vila Madalena, sem considerar os cursos de água subterrâneos, agrava os alagamentos. O arquiteto Sergio Ortiz sugere que a cidade deve investir em infraestrutura verde, como biovaletas e jardins pluviais, para melhorar a absorção da água. Atualmente, as exigências de permeabilidade nas construções variam entre 15% e 30%, dependendo da região, mas ainda são insuficientes.

O prefeito Ricardo Nunes defende a construção de um "piscinão" como uma das soluções para as enchentes na Vila Madalena, embora a obra tenha enfrentado questionamentos legais desde 2005. Nunes responsabilizou a ausência do reservatório pela morte de Rodolpho e criticou a demora na execução do projeto. Caldana complementa que, embora o piscinão seja importante, ele deve ser parte de um conjunto de soluções que inclua pavimentação permeável e arborização, já que "não é uma grande obra que vai resolver tudo".