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Como a cultura pop e as redes sociais alimentam a rivalidade feminina

Entre tendências do TikTok e filmes adolescentes, mulheres sempre foram incentivadas a competir entre si, mas o verdadeiro protagonismo feminino está justamente na colaboração.

(Imagem: Portal Tela)

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O enredo que a gente já conhece

Se você cresceu nos anos 2000, vai lembrar de ao menos um filme em que a protagonista rejeitava vestidos, maquiagem e tudo que fosse considerado “feminino demais”. Ela era vista como “diferente das outras” e por isso mesmo, acabava ganhando o coração do mocinho.

Mas o roteiro também incluía outra personagem: a patricinha malvada. Linda, popular, obcecada por aparência e poder. De Regina George (Meninas Malvadas) a Sharpay Evans (High School Musical), essas personagens encarnavam tudo o que não deveríamos querer ser. Assim, cresceu uma geração que aprendeu a escolher entre dois arquétipos: ou você era a “diferentona” que andava com os meninos, ou a garota superficial e má, que competia com todas as outras.

Nessa falsa dicotomia, perdemos nuances e complexidades — e aprendemos, desde cedo, a não estar do lado de outras mulheres.

O que é uma “pick me girl”?

A expressão “pick me girl” vem do inglês pick me (me escolhe) e define mulheres que tentam se diferenciar das outras para agradar aos homens. A origem do termo é frequentemente associada a uma cena clássica de Grey’s Anatomy, quando a personagem Meredith Grey implora: “Pick me. Choose me. Love me.” para que um homem casado escolha ela em vez da esposa dele. A frase virou símbolo de um tipo de comportamento que busca validação romântica a qualquer custo, mesmo que isso signifique apagar outras mulheres no processo.

Em sua forma mais estereotipada, é a garota que diz: “eu não sou como as outras meninas”. Ela prefere preto a rosa, skate a compras, e diz que não consegue manter amizades femininas porque “são muito falsas”.

Popularizada no TikTok, a expressão virou piada, contudo, também pode ser cruel. Muitas meninas são chamadas de “pick me” por gostarem genuinamente de coisas fora do estereótipo feminino. O que era para ser uma crítica ao machismo internalizado, às vezes acaba virando uma forma de patrulha comportamental.

Nem tudo é sobre agradar alguém

A questão aqui não é o gosto, e sim o motivo por trás dele. Tudo bem amar futebol, videogame ou rock pesado. A pergunta é: você ama essas coisas porque elas fazem parte de quem você é, ou porque aprendeu que gostar disso te torna “melhor que as outras garotas”?

O perigo está quando o discurso se apoia em diminuir o que é visto como feminino para se sentir superior. Mas, ao mesmo tempo, não dá pra sair rotulando todo mundo como “pick me” sem entender suas motivações. E é aí que mora a armadilha: acabamos criando um novo tipo de julgamento, que só troca de nome.

Surge a “girl’s girl”

Em contrapartida, outra tendência explodiu nos últimos tempos: a valorização das amizades femininas. A “girl’s girl” (garota das garotas) é aquela que prioriza os laços com outras mulheres, celebra suas vitórias, oferece apoio e não vê as outras como rivais.

Ser uma “girl’s girl” não é sobre saias rodadas, jantares temáticos ou estética feminina — é sobre atitudes. E é aí que a coisa fica bonita: nos pequenos rituais que ganham significado quando compartilhados com outras mulheres. Se arrumar juntas ouvindo música alta, assistir a Mamma Mia num domingo à tarde, fazer uma noite com vinho e baralho… Tudo isso vira gesto de afeto.

É ela quem empresta um absorvente no banheiro da balada, avisa que a etiqueta está aparecendo ou celebra com entusiasmo quando a amiga passa no emprego dos sonhos. Duplas como Bruna Marquezine e Sasha Meneghel, ou Monica Martelli e Ingrid Guimaraes, são alguns exemplos de amizades públicas que inspiram esse tipo de conexão.

Mas é importante lembrar: não é obrigatório fazer nada disso para ser uma boa amiga ou uma boa mulher. O essencial é o respeito, a escuta e o apoio genuíno.

A patrulha só mudou de nome?

Apesar da vibe positiva, o culto à “girl’s girl” também pode virar exclusão disfarçada. Agora, quem não performa feminilidade ou não tem uma girl gang animada vira “menos mulher”? Novamente, o perigo mora nos extremos.

Criamos uma oposição entre a “girl’s girl” e a “pick me girl”, quando a verdade é que essas categorias são frágeis e limitadoras. E isso vai contra o que deveria ser o centro da conversa: liberdade para ser quem somos. Nem toda mulher que é vaidosa e arrumada se acha melhor que as outras meninas e nem toda garota que prefere andar com homens é uma traidora da causa.

O lado mais bonito de ser mulher

No fim, não deveríamos precisar de termos como “pick me” ou “girl’s girl”. Não há jeito certo de existir no mundo sendo mulher. O que existe é um chamado coletivo para nos apoiarmos mais — com nossas diferenças, contradições e jeitos únicos de viver.

Ser mulher pode ser caótico, intenso, desafiador. Mas também é doce, potente e mágico. E quando nos unimos, essa experiência se transforma. Seja com uma parceira fiel de infância ou um grupo inteiro da faculdade, o que realmente importa é reconhecer no feminino um espaço de afeto, acolhimento e liberdade.

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