Líderes latino-americanos investem milhões em lobby para influenciar governo dos EUA

Líderes de pelo menos dez países da América Latina têm investido milhões de dólares em lobby para influenciar a política dos Estados Unidos, especialmente durante a administração de Donald Trump. Documentos analisados pelo jornal britânico The Guardian revelam que esses investimentos visam avançar agendas nacionais na Casa Branca.

Entre os principais beneficiários estão Nayib Bukele, presidente de El Salvador, que gastou US$ 1,5 milhão em lobby nos últimos três anos. Em troca, Bukele obteve uma reunião no Salão Oval, apoio a um projeto de energia nuclear e uma reavaliação positiva do país em rankings de segurança. Daniel Noboa, presidente do Equador, também se destacou ao contratar a Mercury Public Affairs, garantindo um encontro com Trump e apoio militar em meio a uma crise interna.

Javier Milei, presidente da Argentina, adotou uma abordagem midiática, gastando quantias significativas para se associar a figuras como Trump e Elon Musk. Esses esforços resultaram em um empréstimo de US$ 20 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI), apoiado pelos Estados Unidos, além de visitas de autoridades americanas a Buenos Aires.

A Nova Dinâmica do Lobby

A prática de lobby por países latino-americanos não é nova, mas o volume de recursos e a personalização das relações têm se intensificado. Jake Johnston, do Centro de Pesquisa Econômica e Política, destacou que a política externa durante o governo Trump foi moldada por relações diretas e transacionais, favorecendo alianças com a extrema direita na América Latina.

Consultorias e firmas de lobby têm proliferado, com figuras como Damian Merlo, que atua como conselheiro de Bukele, e Mauricio Claver-Carone, ex-assessor de Trump, desempenhando papéis centrais. A Continental Strategy, de Trujillo, arrecadou US$ 3,6 milhões no primeiro trimestre de 2025, destacando-se em acordos estratégicos, como a tentativa de retomar o controle do Canal do Panamá.

Embora a América Latina não esteja entre as regiões que mais gastam com lobby, a crescente mobilização indica um esforço coordenado para garantir influência nas decisões da nova administração americana. A região busca se consolidar como protagonista em um cenário político em transformação.