27 de jun 2025

Transtornos mentais viraram tendência nas redes
Autodiagnósticos, glamourização e piadas virais banalizam sofrimentos reais.

Desenho sobre saúde mental. (Imagem: Creative Commons)
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Nos últimos anos, cresceu nas redes sociais uma onda de conteúdos sobre saúde mental que vai da conscientização ao entretenimento. No TikTok, por exemplo, é comum encontrar vídeos com perguntas do tipo “abaixe um dedo se você…” que, ao final, tentam indicar se a pessoa tem TDAH, ansiedade, autismo ou até transtorno de personalidade. A maioria desses conteúdos é feita por pessoas sem qualquer formação, e nos comentários, não faltam jovens se identificando com os sintomas e dizendo: “Achei que era só comigo”.
Nesse cenário: quando todo mundo diz que tem, o que ainda é considerado transtorno?
A epidemia é de diagnósticos, não de transtornos
Para a professora Maria Aparecida Affonso Moysés, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em entrevista ao Portal UFMG , sentimentos naturais como a tristeza têm sido confundidos com depressão, e transtornos como a bipolaridade passaram a ser vistos quase como um status. Segundo ela, há uma tendência preocupante de tratar esses diagnósticos como algo “na moda”, o que acaba banalizando o sofrimento real de quem convive com essas condições.
Autodiagnóstico pela internet
A busca por respostas na internet não é nova, mas a forma como consumimos informação mudou drasticamente. Hoje, a preferência é por vídeos curtos, conteúdos diretos e frases de impacto. O problema é que a saúde mental exige nuance, contexto e acompanhamento especializado, algo que não cabe em 15 segundos na tela do seu celular.
Como explica uma reportagem do Jornal da USP, essa tendência de autodiagnóstico tem relação direta com a lógica da performance. Na matéria, a professora Valéria Barbieri, do Departamento de Psicologia da FFCLRP-USP, defende que vivemos uma exigência constante de que todos estejam sempre em sua “melhor versão”. Com isso, sentimentos humanos como angústia e ansiedade, passam a ser encarados como falhas, problemas que precisam ser extirpados.
Esses sentimentos só constituem transtornos mentais quando se tornam incapacitantes para a pessoa durante um longo período de tempo. Fora disso, são apenas manifestações da experiência humana — desconfortáveis, sim, mas não patológicas.
Atenção: saúde mental não é trend
Além da banalização, especialistas também alertam para a romantização dos transtornos mentais. Em filmes, séries e redes sociais, não é raro ver personagens com sofrimento psíquico sendo retratados como misteriosos, profundos ou até curados pelo amor. Essa narrativa, segundo a psicóloga Valéria Barbieri, colabora para uma imagem distorcida das doenças mentais, reforçando estigmas e criando expectativas irreais sobre o tratamento.
A estética da vulnerabilidade também virou tendência. Vídeos com trilha triste e olhos marejados acumulam milhões de visualizações. Emoções reais, às vezes intensas, às vezes performadas, se tornam conteúdo. E nesse ciclo de exposição, o sofrimento vira moeda social, algo que pode gerar likes, empatia e até pertencimento.
Entre o exagero e o descaso, fica o alerta dos especialistas: sofrimento psíquico é assunto sério. Diagnósticos não devem ser feitos nas redes. A internet pode ser aliada na divulgação de informações e na quebra de tabus, mas não substitui o cuidado profissional. É crucial buscar ajuda médica.
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