Brenda Milner e o legado de Henry Molaison: descobertas que transformaram a neurociência da memória

Brenda Milner, neuropsicóloga renomada, destacou-se ao estudar Henry Molaison, conhecido como paciente H.M., que sofreu amnésia anterógrada após uma cirurgia cerebral. Em uma de suas experiências, Milner pediu que Henry lembrasse do número 584 e, mesmo após vinte minutos, ele conseguiu reproduzi-lo. Isso se deve ao fato de que, apesar de sua incapacidade de formar novas memórias, ele retinha informações temporariamente por meio de prática verbal constante.

A cirurgia realizada em Henry visava tratar crises epilépticas, mas resultou em danos ao hipocampo, estrutura crucial para a formação de novas memórias. Embora Henry não conseguisse recordar eventos recentes, ele mantinha memórias de sua infância. Milner observou que, mesmo sem consciência de suas aprendizagens, Henry era capaz de realizar tarefas motoras complexas, como desenhar olhando para um espelho, revelando a dissociação entre diferentes tipos de memória.

Milner introduziu o conceito de sistemas múltiplos de memória, que sugere que diferentes tipos de memória dependem de estruturas cerebrais distintas. Essa descoberta foi fundamental para a neurociência, pois desafiou a visão anterior de que a memória era uma função unitária. O trabalho de Milner com H.M. demonstrou que a memória processual, relacionada a habilidades motoras, permanecia intacta, mesmo quando outras formas de memória estavam comprometidas.

A pesquisa de Milner não apenas iluminou o papel do hipocampo na memória, mas também estabeleceu um modelo que se tornou referência em livros didáticos. Sua contribuição foi reconhecida como uma guinada significativa na compreensão do cérebro e da memória, influenciando estudos futuros e a forma como entendemos as funções cognitivas.