17 de fev 2025
Asilomar: o encontro que moldou a biotecnologia e escondeu dilemas éticos
A reunião de Asilomar em 1975 estabeleceu protocolos de biossegurança ainda vigentes. Questões como bioweapons e lucro não foram discutidas, impactando a biotecnologia. O patenteamento da técnica Cohen Boyer gerou bilhões, alterando a dinâmica científica. A presença soviética disfarçou interesses em bioweapons, sem despertar suspeitas. Asilomar é um exemplo de autorregulação científica, mas omissões geraram críticas.
Biologistas Maxine Singer, Norton Zinder, Sydney Brenner e Paul Berg em Asilomar em 1975. (Foto: Album/Alamy)
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Em 24 de fevereiro de 1975, cerca de 150 pessoas se reuniram no Asilomar Conference Grounds, na Califórnia, para discutir a tecnologia de DNA recombinante. O encontro contou com cientistas dos Estados Unidos, representantes de empresas, agências governamentais e 16 jornalistas. Embora os pesquisadores estivessem entusiasmados com as possibilidades de descobertas e a produção de medicamentos, havia preocupações sobre a criação acidental de doenças que poderiam afetar trabalhadores de laboratório e a comunidade. Ao final do encontro, os participantes concordaram em adotar protocolos de biossegurança que ainda estão em vigor nos EUA e influenciaram regulamentações em todo o mundo.
O contexto da reunião remonta a junho de 1971, quando surgiram debates sobre os perigos do DNA recombinante. O pesquisador Robert Pollack expressou preocupações sobre um experimento que envolvia a transferência de DNA de um vírus simiano para a bactéria Escherichia coli, temendo que isso pudesse causar câncer em humanos. O cientista Paul Berg, que inicialmente ignorou as preocupações, acabou abandonando o experimento. Em 1974, Berg e outros cientistas publicaram uma carta pedindo a suspensão de experimentos até que os riscos fossem avaliados, estabelecendo um moratório inédito na ciência.
Durante a reunião de Asilomar, Berg enfrentou um dilema ao descobrir que Stanford e UCSF haviam solicitado uma patente para a técnica de clonagem de Cohen-Boyer, o que poderia comprometer a credibilidade do encontro. Apesar da presença de jornalistas, a questão da patente não foi revelada durante o evento. As recomendações de biossegurança foram aceitas pelo Instituto Nacional de Saúde (NIH) em 1976, estabelecendo níveis de segurança que foram fundamentais para a pesquisa subsequente em biotecnologia.
Embora a reunião tenha abordado a segurança, questões sobre o uso de DNA recombinante para armas biológicas foram deliberadamente evitadas. O biólogo David Baltimore, que presidiu a sessão de abertura, afirmou que o encontro não estava preparado para discutir esse tema, que poderia desviar o foco. No entanto, a presença de cientistas soviéticos, envolvidos em um programa secreto de armas biológicas, levantou questões sobre a segurança das discussões. Apesar da aparente inocuidade dos delegados soviéticos, a conferência acabou servindo como uma cobertura civil para a expansão da biotecnologia na União Soviética.
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