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O boom dos energéticos e os riscos que ameaçam a saúde dos jovens

Médico hebiatra alerta para impactos no sono, no coração e até na saúde mental

Imagem: Portal Tela
  • Bebidas energéticas são cada vez mais populares, especialmente entre jovens e frequentadores de academias.
  • O consumo excessivo pode levar a efeitos imediatos como taquicardia, tremores e crises de ansiedade, além de riscos a longo prazo, como aumento da pressão arterial e arritmias.
  • A mistura de energéticos com álcool aumenta os riscos, criando uma falsa sensação de resistência e sobrecarregando órgãos como fígado e rins.
  • O uso de energéticos também prejudica a qualidade do sono, afetando a memória e aumentando o risco de doenças neurodegenerativas.
  • Especialistas alertam para a necessidade de informar os jovens sobre os riscos, sugerindo alternativas saudáveis como sono adequado e atividade física.

Dançar, pular, cantar e virar a noite. Acordar às cinco da manhã, correr dez quilômetros e ainda encarar uma aula de yoga. Passar horas focado nos estudos para uma prova decisiva. O que todas essas situações têm em comum? Exigem energia.

Se antes essa energia vinha de uma boa noite de sono, alimentação balanceada e rotina saudável, hoje muitos recorrem a atalhos mais rápidos, como as bebidas energéticas. Associadas na publicidade ao esporte, à vitalidade e ao estilo de vida ativo, elas também têm chamado a atenção de especialistas pelos possíveis impactos negativos na saúde.

Para entender melhor o tema, o Portal Tela conversou com o Dr. Maurício Souza Lima, hebiatra com 15 anos de experiência na Unidade de Adolescentes do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) onde também concluiu seu doutorado. Nesse período, além de atuar como médico, ele ministrou aulas na graduação e na pós-graduação em Medicina. Hoje, mantém vínculo com a instituição como professor convidado.

E, caso você nunca tenha ouvido falar, o hebiatra é o médico especializado em adolescentes e jovens, acompanhando não só a saúde física, mas também o desenvolvimento mental, social e sexual nessa fase de tantas mudanças.

A trajetória dos energéticos

As bebidas energéticas não são novidade. Sua origem remonta ao século XIX, quando combinações de cafeína e açúcar eram usadas para aumentar a produtividade de trabalhadores britânicos. Desde então, esses produtos ganharam novos papéis: tornaram-se presença constante entre frequentadores de academia e influenciadores do universo fitness, associados não apenas ao desempenho físico, mas também a promessas de emagrecimento. Fora do ambiente esportivo, são quase obrigatórios em bares e baladas, muitas vezes vendidos em combos que incluem garrafas de destilados acompanhadas por várias latas de energético.

Segundo a Academia Americana de Pediatria, para adultos, o consumo máximo de cafeína é de 400 mg por dia. Crianças com menos de 12 anos não devem consumir a substância, e, entre os 12 e 18 anos, o limite é de 100 mg diários. No entanto, “*uma latinha de energético tem 80 mg de cafeína, o equivalente a uma xícara e meia de café. Mas o problema é que ninguém para em uma. Atendo jovens que chegam a consumir sete, oito, nove latas em uma única noite”*, alerta o hebiatra.

Esse debate não é exclusivo do Brasil. O governo do Reino Unido, por exemplo, está prestes a proibir a venda de energéticos para menores de 16 anos. Enquanto isso, por aqui, o mercado segue em expansão: em 2024, os energéticos já estavam presentes em 38% dos lares e alcançavam 22% da população fora de casa, segundo levantamentos de consumo.

Consequências no corpo

De acordo com o médico, os principais efeitos imediatos vão de taquicardia e tremores a crises de ansiedade e insônia. Mas o impacto a longo prazo pode ser ainda mais grave:

  • aumento de pressão arterial,
  • risco de arritmias,
  • alteração do humor e da impulsividade.

Quando somados ao consumo de álcool, os riscos se multiplicam. *“Essa mistura cria uma falsa sensação de resistência. O jovem que pararia após quatro doses de bebida alcoólica passa a consumir o dobro. É um combo de sobrecarga para fígado, rins e cérebro”*, explica.

Em maio deste ano, o ator Rafael Zulu foi internado de emergência após desenvolver fibrilação atrial, um tipo de arritmia cardíaca potencialmente fatal. O episódio ocorreu depois de ingerir cerca de 2,5 litros de energético misturado com álcool durante um domingo de lazer com a família.

O sono em crise

Para além dos riscos cardíacos e metabólicos, Maurício chama atenção para um impacto silencioso, mas devastador: a crise do sono.

Segundo o hebiatra, os energéticos desregulam a chamada “arquitetura do sono”, ciclo natural que alterna fases leves, profundas e REM (caracterizada por uma intensa atividade cerebral). *“Mesmo quando o jovem consegue adormecer, não entra no sono profundo. A memória fica prejudicada, o sistema imunológico enfraquece e, no longo prazo, aumenta até o risco de doenças neurodegenerativas como Alzheimer”*, alerta.

O médico reforça que a qualidade do sono afeta todos os aspectos da vida. No corpo, noites maldormidas estão associadas a ansiedade, depressão, enfraquecimento do sistema imunológico e doenças cardiovasculares. No desempenho cognitivo, surgem problemas de concentração, falhas de memória e queda na produtividade em estudos e trabalho. Já no campo emocional, mudanças de humor e comportamento fragilizam até mesmo as relações interpessoais.

Os números confirmam a gravidade: segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 72% dos brasileiros sofrem de alguma doença relacionada ao sono, como apneia, distúrbios comportamentais e, sobretudo, insônia. “*O sono é a base de tudo”*, conclui Maurício *“se ele entra em colapso, todo o resto desmorona junto.”*

Uma bomba-relógio social

E não para por aí. A combinação de energético, álcool e drogas vem se consolidando como hábito em festas e baladas, o que preocupa cada vez mais os médicos. Misturas que envolvem nicotina dos vapes, MD, cogumelos ou maconha potencializam os efeitos dos energéticos sobre o sistema nervoso.

*“São todas substâncias psicoativas. O cérebro entra em colapso diante de tantos estímulos conflitantes. Casos de alucinação, pânico e até surtos graves estão cada vez mais comuns no consultório”*, Maurício alerta.

Na prática, o que parece diversão pode se transformar em emergência. O corpo é obrigado a processar, ao mesmo tempo, estimulantes que aceleram o sistema nervoso e depressores que tentam freá-lo. Esse choque químico cria uma falsa sensação de resistência, que leva ao consumo de doses muito maiores de álcool e, em consequência, a uma sobrecarga para coração, fígado, rins e cérebro.

Caminhos possíveis

Para o especialista, o caminho está longe de ser apenas proibir. É preciso investir em comunicação direta com os jovens, usando as mesmas linguagens e canais que eles consomem.

*“As propagandas de energético lembram muito as de cigarro dos anos 80: glamour, adrenalina, status. Precisamos contrabalançar isso com informação real sobre os riscos”*, afirma Maurício.

Ele também destaca que existem alternativas simples e eficazes para substituir os efeitos buscados nas latinhas: dormir bem, praticar atividades físicas e manter uma alimentação equilibrada.

*“Não existe mágica. Quem tenta ganhar tempo com energético vai pagar um preço alto depois”*, conclui o hebiatra.

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