24 de mai 2025
Jovens rejeitam trabalho formal e buscam liberdade no empreendedorismo digital
Jovens rejeitam a CLT, associando empregos formais a fracasso, enquanto influenciadores digitais promovem a busca pelo sucesso no mundo virtual.
Erick Chaves, o Kinho, posta vídeos no TikTok sobre não ter vontade de trabalhar como CLT. (Foto: TikTok/Reprodução)
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A insatisfação com o trabalho formal, especialmente entre os jovens, tem crescido no Brasil. Influenciadores digitais estão promovendo uma campanha contra a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), levando muitos a verem empregos formais como sinônimo de fracasso. A antropóloga Rosana Pinheiro-Machado destaca que essa aversão não é nova, sendo um reflexo de condições de trabalho precárias e da cultura histórica de exploração.
Pesquisadores da University College Dublin (UCD) revelaram que apenas 1,4% das 40 mil contas monitoradas no Instagram conseguiram mais de 5 mil seguidores. Essa realidade tem levado jovens a abandonarem a escola em busca de sucesso no ambiente digital. Fabiana Sobrinho, de Mogi das Cruzes, relata que sua filha de 12 anos vê a CLT de forma negativa, associando-a a um futuro de dificuldades. "Ela dizia: 'Vou estudar para não virar um CLT'", conta Fabiana.
O impacto da cultura digital
O jovem Erick Chaves, conhecido como "Kinho" no TikTok, afirma que tem pavor de ser CLT, citando a rotina cansativa de seus pais como um fator que o afastou do emprego formal. Ele começou a ganhar entre R$ 3 mil e R$ 5 mil mensais com seu conteúdo digital. Bruna Neres, de 26 anos, trocou a CLT pela flexibilidade do empreendedorismo, afirmando que a CLT limita o salário em algumas áreas.
A antropóloga Rosana Pinheiro-Machado ressalta que a insatisfação com o trabalho formal é histórica e que muitos preferem se virar a aceitar empregos ruins. A pressão por autonomia e liberdade tem levado jovens a ver o trabalho formal como uma opção indesejada. No entanto, especialistas alertam que atacar a CLT não é a solução para os problemas do mercado de trabalho.
Riscos e realidades
A busca por sucesso no digital pode levar a riscos, como o abandono da educação. Alejandro Ferreira, de 17 anos, que deixou a escola para empreender, reconhece que o digital deve andar lado a lado com o tradicional. Ele e um colega faturam entre R$ 30 mil e R$ 50 mil mensais com sua empresa de marketing digital.
Estudos mostram que a realidade de muitos influenciadores é distante da maioria. A promessa de sucesso fácil pode gerar frustração e baixa autoestima, especialmente entre populações vulneráveis. A designer Fernanda Smaniotto Netto observa que muitos colegas autônomos consideram voltar para a CLT, percebendo que empreender é um caminho repleto de desafios.
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) revelou que 67,7% dos trabalhadores autônomos desejam ter carteira assinada, e 45% atuam por necessidade. O historiador Paulo Fontes alerta que a flexibilização da CLT pode retirar direitos dos trabalhadores, criando um ambiente de trabalho mais precário. A luta deve ser pela melhoria da CLT, enfatiza Rosana Pinheiro-Machado.
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