Poeta redescoberta desafia tradições e se torna destaque no vestibular

A reedição de Nebulosas, obra da escritora brasileira Narcisa Amália, marca um importante passo na redescoberta de autoras esquecidas do século XIX. O livro, que volta a ser publicado com suporte crítico, foi incluído na lista de leitura obrigatória da Fuvest, o vestibular da USP.

Narcisa Amália, natural do interior do Rio de Janeiro, foi uma poeta e jornalista reconhecida em sua época, apesar do preconceito de gênero. Machado de Assis, em uma resenha, destacou seu talento, afirmando que encontrou uma "poetisa dotada de sentimento verdadeiro". Sua obra, lançada em 1872, é um reflexo do romantismo engajado, abordando temas como abolicionismo, feminismo e meio ambiente.

A nova edição de Nebulosas, publicada pela Editora 34, conta com glossários e comentários que contextualizam cada poema. A professora Maria de Lourdes Eleutério, que assina a apresentação, destaca a importância de revisitar a obra de Amália para entender as permanências e avanços sociais.

A redescoberta de Narcisa Amália é parte de um movimento mais amplo de visibilização de mulheres na literatura. Eleutério ressalta que a inclusão de autoras femininas nas leituras obrigatórias representa uma ruptura com o colonialismo intelectual. A obra de Amália, com sua crítica social e ambiental, permanece relevante, refletindo questões que ainda são atuais.

Os poemas de Narcisa, como "O Africano e o Poeta", promovem uma reflexão sobre a escravidão, enquanto outros, como "Manhãs de Maio", alertam sobre a natureza. A nova edição busca facilitar a compreensão de seu vocabulário complexo, oferecendo notas explicativas e um glossário.

A fortuna crítica de Narcisa inclui ensaios que abordam a luta pela emancipação feminina e a necessidade de educação, destacando sua relevância histórica e literária. A reedição de Nebulosas não apenas resgata a obra de uma escritora esquecida, mas também convida novos leitores a explorar sua poesia e seu legado.