- Comunidade Iban de Sungai Utik, em West Kalimantan, acredita que figueiras úlceras abrigam espíritos; há relatos de encontros que levaram a medidas como mudar o nome da criança para protegê-la.
- Pesquisas mostram benefício ecológico dessa crença: áreas ao redor de figueiras grandes são mantidas como zonas de vegetação de cerca de 10 metros, chamadas de dipulau, protegendo a árvore e o entorno.
- As zonas protegidas representam entre 1% e 2% da lavoura total, funcionando como refúgios e pontos de passagem para a fauna que se move pela área de cultivo.
- Foram identificadas vinte e cinco espécies de figueiras strangler ao longo de mais de dezesseis quilômetros de floresta antiga e de lavoura, com densidade similar entre os ambientes.
- Figueiras são consideradas “peças-chave ecológicas” para dispersão de sementes; estudo aponta que a prática pode inspirar agricultura mais biodiversa e regeneração de florestas quando campos são abandonados.
Quando uma criança desapareceu perto da lavoura da mãe, na região de Sungai Utik, no Kalimantan Ocidental, Indonésia, a busca mobilizou a vila. O garoto foi encontrado junto a uma figueira-garroteira, e afirmou ter sido atraído por espíritos que moram na árvore.
A família levou o menino a um shaman, que confirmou a presença de entidades na figueira. Para evitar novos encontros, a família trocou o nome da criança, buscando proteção futura.
Esses relatos, coletados por Ditro Wibisono Wardi Parikesit com uma comunidade Iban, revelam crenças fortes sobre figueiras grandes que abrigam espíritos considerados perigosos.
Espinhos ecológicos
Nova pesquisa publicada na revista Biotropica aponta que essa crença pode trazer benefícios ambientais mensuráveis, ao mesmo tempo em que preserva a floresta.
Parques de figueiras estranguladoras crescem quando as sementes são depositadas no dossel de outra árvore, com raízes aéreas que envolvem o hospedeiro e o derrubam, mantendo a estrutura do figo.
Proteção acordada pela comunidade
Quando agricultores protegem a figueira grande, eles mantêm uma zona de vegetação ao redor, chamada dipulau, estendendo-se cerca de 10 metros além do dossel. A área protegida equivale a 1% a 2% das lavouras locais, mas funciona como refúgio para fauna.
A pesquisa mensurou 25 espécies de figueiras em mais de 16 km de floresta primária e 16 km de áreas de cultivo, com densidade semelhante entre ambos os ambientes.
Importância ecológica
Especialistas externos destacam que as figueiras estranguladoras são “keystone” ecológicos, sustentando dispersores de sementes de centenas de espécies florestais. O tamanho dos dosséis nas áreas agrícolas pode superar 16 metros, maior que em florestas vizinhas.
Estudos indicam que manter árvores grandes com zonas de proteção ajuda na conectividade entre áreas, facilitando a regeneração de áreas degradadas quando campos são abandonados.
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