- Em 2025, o grupo MATI registrou deformidades em silver croaker (Plagioscion squamosissimus) na Volta Grande do Xingu, com relatos de alta prevalence entre a pesca local.
- A deformidade aparece após a construção e operação da Belo Monte, iniciadas em 2016, que já eram associadas a impactos ambientais desde o início do regime de desvio de águas.
- Pesquisadores indicam falhas no monitoramento oficial de impactos e defendem a adoção de um novo regime hídrico, chamado Piracema Hydrograph, para tentar restabelecer a reprodução dos peixes.
- Durante a COP trinta, autoridades apontaram sinais de colapso do ecossistema da região, citando deformidades como um dos indicativos de deterioração ambiental no rio.
- A Norte Energia sustenta que a operação segue a autorização vigente e nega relação causal entre a barragem e deformidades, além de mencionar monitoramento contínuo; houve tensão institucional com pesquisadores da UFPA.
Em 2025, o grupo MATI notificou deformidades em gerações do silver croaker, peixe Plagioscion squamosissimus, na Volta Grande do Xingu. Observadores locais relatam alta frequência de contaminação entre peixarias da região. Pesquisas sugerem falhas no monitoramento oficial e avaliam um novo regime hídrico como possível causa.
Sara Rodrigues Lima, moradora de Belo Monte, reuniu relatos desde 2021 de deformidades e crescimento comprometido, estimando prevalence de até 40% entre as capturas. Estudos laboratoriais indicaram deformidades em larvas de peixes-control, mas ainda faltam dados para quantificar a abrangência na região.
O que está em jogo
Pesquisadores associam as alterações a mudanças ambientais provocadas pela usina, com fluxo de água irregular e possível contaminação por mercúrio. A hipótese considera o habitat modificado, com menor velocidade de água e mais água estagnada, afetando o desenvolvimento larval e a sobrevivência de espécies locais.
Contexto e causas em debate
Especialistas destacam que a floresta alagada e as áreas de igapó foram impactadas pela hidroeletricidade, reduzindo a oferta de alimento para peixes. A hipótese nutricional envolve alterações nas cadeias alimentares; outra aponta oxigenação e temperatura da água como fatores críticos para deformidades observadas.
Monitoramento e controvérsias
Prosecutores do MPF apresentaram queixas durante o COP30, em Belém, apontando colapso ecológico no trecho alterado do Xingu e citando deformidades como indicativo. A equipe MATI afirma que a monitoria oficial não captura plenamente os impactos e que há tensões entre UFPA e a Norte Energia, parceira institucional, com contratos encerrados em fevereiro de 2025.
O regime hídrico e a resposta institucional
O complexo Belo Monte, operado pela Norte Energia, mantém que o fluxo é ajustado para respeitar a sazonalidade do rio, e que não houve drought causada pela usina. Dados históricos indicam variações naturais no nível de água, mas especialistas contestam que o regime atual reproduz fielmente o pulso de inundação da Volta Grande.
Perspectivas futuras
A equipe MATI propõe o Piracema Hydrograph, com pico de 14 mil m3/s em abril para favorecer a reprodução de igapós e sarobais, reduzindo o recuo extremo de vazão. Pesquisadores ressaltam a necessidade de modelos experimentais que comprovem relação causal entre a obra e deformidades, sob choque com mudanças climáticas.
Resposta da empresa
Norte Energia afirma ter projetado o empreendimento para aproveitar o período amazônico de menor demanda e sustenta que a atividade não causou deslocamento climático relevante na região. A empresa afirma seguir monitoramento contínuo, sem indicar danos relacionados às deformidades.
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