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Labubus e o fenômeno do gacha ao redor do mundo

Baseada em sorte e aleatoriedade, a aquisição dos monstrinhos está ligada a um enorme e antigo mercado japonês voltado ao vício.

Pequeno boneco em formato de monstro evidencia a grande alta no mercado de gacha- Foto: Reprodução/Heute

Pequeno boneco em formato de monstro evidencia a grande alta no mercado de gacha- Foto: Reprodução/Heute

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Nos últimos meses, uma febre atingiu o mundo: Os bonecos Labubus. Criados em 2015 pelo designer Kasing Lung para ilustrar histórias infantis, os monstrinhos ganharam outra dimensão quando a empresa PopMart passou a vender seus brinquedos, que rapidamente se tornaram uma sensação mundial, sendo usados por diversas celebridades como as cantoras Rihanna e Dua Lipa.

Um fator que impulsionou ainda mais a visibilidade e o valor dos bonequinhos foi o formato de venda adotado pela PopMart. Os Labubus são lançados em coleções, cada uma com uma temática e visual próprios. Essas coleções são vendidas nas chamadas "blind-boxes", ou seja, caixas surpresas em que o comprador só descobre qual boneco recebeu ao abrir a embalagem. Cada série inclui um boneco ultra-raro, o que aumenta ainda mais a demanda e cria uma comunidade de colecionadores em volta desses objetos.

Esse método de venda tem nome e se chama “gacha”. Ele se trata de uma forma de venda em que o comprador adquire um item com uma chance aleatória de receber diferentes produtos de uma linha dentro dele, sem saber o que encontrará antes de abrir. Essa prática se tornou comum entre colecionadores por conta do fator de raridade, e junto disso, também ganhou mais popularidade com os jogos digitais.

A história do Gacha

Os gachas surgiram no Japão, em meados da década de 60, quando Ryuzo Shigeta criou uma máquina inspirada nas de chicletes dos Estados Unidos. Nela, o usuário inseria uma moeda, girava a manivela e recebia um item aleatório. A diferença é que, em vez de doces, Shigeta colocou brinquedos nas máquinas — e assim começou a febre dos gachapon. O nome vem da onomatopeia japonesa, onde "gacha" representa o som da manivela girando, e “pon”, o barulho do brinquedo ao cair.

Ao decorrer do tempo, outras empresas passaram a adotar esse modelo de venda, que se popularizou entre colecionadores atraídos pela raridade dos brinquedos, garantida justamente pela aleatoriedade. Hoje, a prática é bem comum no Japão, um exemplo disso é a loja "Gashapon Department Store", localizada em Toshima, Tóquio, que reúne mais de 3 mil máquinas de gachapon.

No entanto, nem todo gacha é exclusivo às máquinas tradicionais. Um exemplo são os próprios Labubus, vendidos através de blind-boxes. Essa é uma forma de levar a lógica aleatória das máquinas de gacha para as prateleiras das lojas. Outro exemplo popular são os Sonny Angels, pequenos bonecos risonhos, que também são vendidos no formato de caixas surpresa, com modelos que variam conforme a coleção.

Ascensão no meio digital

Atualmente, os gachas também podem ser vistos ao redor do mundo, fora das máquinas e das blind-boxes, mas dentro do mundo dos videogames, onde incorporam os elementos de aleatoriedade ligados à progressão do jogador ou à personalização visual dos personagens.

O início dos gachas digitais veio com o jogo Dragon Collection, da Konami. Gratuito para jogar, o game introduziu uma mecânica em que o usuário podia comprar cupons para participar de uma espécie de loteria, e a partir dela, o jogador poderia obter novos personagens — de forma aleatória — que o ajudariam na jogatina. Os mais fortes eram também os mais raros, o que incentivava os jogadores a gastar dinheiro para avançar mais rápido no jogo.

Hoje, muitos jogos utilizam essa estratégia, especialmente os chamados free-to-play — títulos gratuitos para jogar, mas que oferecem mecânicas pagas que influenciam diretamente na progressão. Um dos exemplos mais conhecidos é o jogo Genshin Impact, lançado em 2020. Embora gratuito, ele conta com um sistema de “tiros”, semelhante ao gachapon, em que o jogador usa moedas virtuais para receber itens e personagens aleatórios, cada um com sua própria raridade e nível de poder. Essas moedas podem ser adquiridas de duas maneiras: por meio de longos períodos de coleta dentro do próprio jogo ou com dinheiro real. Em apenas três anos, entre 2020 e 2023, o jogo gratuito gerou mais de 25 bilhões de reais em receita.

Os impactos na mente humana

Por funcionarem com base na aleatoriedade, os gachas também envolvem o fator sorte — o que os aproxima, de cassinos e jogos de azar. Esse tipo de mecânica pode ativar um ciclo de recompensa intermitente no cérebro, o que pode levar ao vício ou a comportamentos compulsivos, assim como ocorre em apostas.

A saúde mental também pode ser afetada, já que a busca constante por recompensas e a frustração ao não obtê-las podem prejudicar o bem-estar emocional dos jogadores. Uma pesquisa realizada em fevereiro de 2025 pela SMBC Consumer Finance revelou que 18,8% dos mil japoneses entrevistados, com idades entre 20 e 29 anos, preferiram gastar dinheiro em sistemas de gacha em vez de itens básicos, como alimentação.

Os Labubus são apenas a ponta do iceberg de um mercado que lucra com a sorte e o vício. Sistemas baseados em gacha vêm se tornando cada vez mais presentes em hobbies e formas de entretenimento, como os jogos digitais, que muitas vezes levam o jogador a gastar dinheiro para continuar progredindo. Por isso, é fundamental manter o olhar atento ao se envolver com essas práticas, que, em sua base, se assemelham aos jogos de azar e podem gerar consequências tão perigosas quanto as geradas por eles.

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