Notícias

A Geração Z e o manual não-oficial dos quase-relacionamentos

O namoro moderno e por que é tão complicado dizer o que somos

(Imagem: Portal Tela)

(Imagem: Portal Tela)

Ouvir a notícia

A Geração Z e o manual não-oficial dos quase-relacionamentos - A Geração Z e o manual não-oficial dos quase-relacionamentos

0:000:00

Os estados civis reconhecidos pela legislação brasileira são simples: solteiro, casado, separado judicialmente, divorciado e viúvo. Categorias formais, diretas, que quase nunca causam dúvidas. Mas, fora do cartório, no mundo dos relacionamentos contemporâneos, a coisa é bem mais complexa.

Para entender os estágios do namoro moderno, é preciso navegar por uma série de nomenclaturas não oficiais, mas amplamente populares. Termos variados compõem um vocabulário afetivo que diz muito sobre como a Geração Z está vivendo — e redefinindo — o amor.

"Só love, só love”… será?

Nascidos entre meados de 1995 e 2010, os integrantes da Geração Z cresceram em um mundo digitalizado, onde o acesso à informação e às redes sociais moldou sua visão sobre romance.

Mais pragmáticos, eles não rejeitam o amor, só que priorizam autonomia, bem-estar e afinidade com seus próprios ritmos. Em muitos países, um beijo ainda pode ser o início imediato de um namoro. Aqui, nem pensar. A paquera brasileira é mais gradual e bem mais criativa. Entre o primeiro crush e o namoro oficial, surgem várias zonas cinzentas.

Em vez de pular direto para o “estamos namorando”, essa geração prefere experimentar conexões em camadas. A internet só amplificou esse comportamento, dando visibilidade a dinâmicas que sempre existiram, mas que agora ganharam nomes (e memes).

Dicionário da paixão

  • Olhante: Alguém que cruza seu caminho com frequência — no trabalho, no elevador, na academia — e que, sem trocar uma palavra, já desperta interesse. É o crush silencioso, que mora no território da observação.
  • Conversante: Aquela pessoa com quem você mantém uma troca constante nas redes sociais. Pode ser alguém com quem você já ficou no passado, ou com quem existe uma tensão no ar, mas, por ora, o que rola é só papo.
  • Ficante: O clássico. Alguém com quem você troca beijos, sai de vez em quando, mas sem rótulo nem promessas. Tá rolando, mas é casual.
  • Ficante sério: Aqui a coisa começa a ganhar forma. Há frequência, exclusividade e até cobranças leves, mas ainda não é namoro. É a famosa frase do “a gente tá junto, mas não assumiu”. Um test drive para ver se vai dar certo… ou não. Nessa etapa, os jovens também usam a expressão “fulano está casado”. Sem aliança no dedo e bem longe do altar, é só um jeito de dizer que a pessoa está comprometida, fora do mercado, indisponível, closed for business.
  • Namorado: Agora sim, é oficial, ou pelo menos deveria ser. Existe compromisso declarado, expectativa de estabilidade e uma certa previsibilidade no caminho. Depois disso, geralmente seguem os estágios mais clássicos: casamento, filhos, talvez divórcio… Aquele roteiro que a gente já conhece.

Versões, reedições e relançamentos

Achou muito? Calma. Entre o ficante e o ficante sério ainda existem algumas subdivisões. Tudo para não deixar dúvidas:

  • Ficante versão remixada: Aquele que desaparece, mas sempre volta com uma nova promessa de que “agora vai”. Você acha que ele está diferente, mais maduro, mais presente. Contudo, para a surpresa de absolutamente ninguém, toda vez é o mesmo o desfecho.
  • Ficante edição limitada: Pode ser um amor de verão, alguém que vai se mudar ou que acabou de sair de um relacionamento. É bom enquanto dura, mas sabemos que não vai ser por muito tempo, afinal, tem prazo de validade para acabar.
  • Ficante comfort: O carinhoso eventual. Está por perto quando o coração pede colo, quando o premium some ou quando a carência fala mais alto. Não é paixão, e nem vai ser, mas é suficiente para aquele momento.
  • Ficante premium: É com quem você mais se importa, mais quer por perto, o favorito do coração — mas que, muitas vezes, não supre as suas expectativas, e por isso te deixa tão obcecada. Dá sinal, depois some. E você segue ali, esperando a próxima migalha de atenção.

O que os rótulos revelam, e o que escondem

Muitos jovens afirmam que criar categorias pode trazer uma sensação de segurança. Em um cenário afetivo cada vez mais fluido, dar nome às relações ajuda a organizar as emoções e entender melhor onde se está e onde o outro está. É como se os rótulos funcionassem como mapas afetivos que ajudam a reduzir a ansiedade diante do desconhecido. Isso serve para alinhar expectativas e evitar algumas decepções.

Além disso, para muitos, nomear é uma forma de validação emocional. Ao perceber que outras pessoas também vivem experiências parecidas e as chamam da mesma forma, surge uma sensação de pertencimento. As categorias, por mais caóticas que pareçam, oferecem um vocabulário compartilhado, capaz de transformar incertezas individuais em vivências reconhecíveis, quase coletivas.

Por outro lado, esse excesso de nomenclaturas também pode esconder uma armadilha: a ilusão de que dar um nome para a relação basta para torná-la segura ou recíproca. Em muitos casos, esses rótulos funcionam como um disfarce para a falta de clareza emocional, especialmente quando usados para evitar conversas difíceis. Eles podem mascarar uma rejeição sutil, como no caso do “contatinho” que não quer um relacionamento sério, mas também não está disposto a abrir mão da sua companhia. Fica ali, no meio do caminho, usando categorias ambíguas como muleta para não precisar se comprometer, e nem sumir de vez.

Status: é complicado

Talvez, se olharmos com mais atenção, essas múltiplas fases e categorias do namoro moderno estejam profundamente ligadas ao modo como a geração Z enxerga — ou desconfia — do amor, como já trouxemos em outra matéria aqui no Portal Tela. Namorar se tornou, para muitos, quase como zerar um jogo de videogame: cheio de fases difíceis, armadilhas inesperadas e a constante sensação de estar quase lá… mas nunca chegar ao “nível final”.

Essa jornada cheia de obstáculos pode desanimar, mas, por outro lado, para uma juventude acostumada a estímulos constantes, informações em excesso e instabilidades de todos os lados, envolver-se com alguém deixou de ser apenas uma questão de desejo. Virou também uma questão de saúde mental. E, se mais fases, mais pausas e mais rótulos significarem cautela para não fazer a escolha errada, então talvez isso não seja um problema. Talvez seja apenas o jeito que os jovens encontraram de adequar o amor ao mundo de hoje — mesmo que ainda estejam aprendendo como fazer isso.

Meu Tela
Descubra mais com asperguntas relacionadas
crie uma conta e explore as notícias de forma gratuita.acessar o meu tela

Perguntas Relacionadas

Participe da comunidadecomentando
Faça o login e comente as notícias de forma totalmente gratuita
No Portal Tela, você pode conferir comentários e opiniões de outros membros da comunidade.acessar o meu tela

Comentários

Os comentários não representam a opinião do Portal Tela;
a responsabilidade é do autor da mensagem.

Meu Tela

Priorize os conteúdos mais relevantes para você

Experimente o Meu Tela

Crie sua conta e desbloqueie uma experiência personalizada.


No Meu Tela, o conteúdo é definido de acordo com o que é mais relevante para você.

Acessar o Meu Tela