Transporte individual supera coletivo em São Paulo, revela pesquisa de mobilidade urbana

A babá Andreia Martins, de 38 anos, moradora do Capão Redondo, São Paulo, tirou a habilitação para motos há três anos para reduzir o tempo de deslocamento. Antes, enfrentava quase duas horas de transporte público, mas agora leva apenas 35 minutos até o Centro. Essa mudança reflete uma tendência observada na pesquisa Origem Destino 2023, que revelou que 51,2% dos deslocamentos diários na Região Metropolitana são feitos por transporte individual, superando o coletivo, que tinha 54,1% em 2017.

O estudo, realizado com 32 mil domicílios, também mostrou que o número total de viagens diárias caiu de 42 milhões em 2017 para 35 milhões em 2023, uma redução de 15%. O transporte coletivo perdeu três milhões de viagens diárias, principalmente nos ônibus, enquanto o individual teve uma perda menor de 116 mil. Essa mudança ocorre mesmo com a ampliação da malha metroferroviária, que ganhou mais de 20 quilômetros entre 2017 e 2023.

O especialista em mobilidade urbana Rafael Calabria aponta que a queda no uso do transporte público pode ser atribuída à falta de qualidade e à migração para motos e aplicativos, especialmente entre a população de baixa renda. As viagens de bicicleta aumentaram 25%, enquanto as a pé caíram 24%. O pizzaiolo João Carlos Aparecido Romão, de 38 anos, trocou o transporte público pela bicicleta, reduzindo seu trajeto de uma hora para 30 minutos.

Além disso, o uso de carros por aplicativos cresceu de 368 mil viagens diárias em 2017 para 1 milhão em 2023, com predominância feminina entre os usuários. O número de motocicletas na região aumentou 50%, passando de 624 mil para 936 mil. Apesar do aumento de mulheres pilotando, a proporção de passageiras caiu de 76,5% para 65,2%. A pesquisa indica que, pela primeira vez desde 2002, o transporte individual superou o coletivo, refletindo mudanças nas dinâmicas de trabalho e estudo.