Atrocidades marcam batalha por Khartoum enquanto forças militares avançam na capital sudanesa

A BBC obteve relatos de atrocidades cometidas por combatentes em retirada durante a batalha pelo controle de Cartum, capital do Sudão. Desde o início da guerra civil, há quase dois anos, a cidade estava sob domínio das Forças de Apoio Rápido (RSF), mas o exército recuperou grande parte do território e acredita estar próximo de retomar o controle total. Essa vitória representaria um marco significativo, embora não encerrasse o conflito. Nas últimas semanas, as tropas cercaram Cartum, avançando do sul e limpando áreas ao norte e leste, restringindo os combatentes da RSF ao centro da cidade.

As consequências são devastadoras, com vastas áreas destruídas. Relatos de moradores revelam o caos e a violência, como o de Intisar Adam Suleiman, que perdeu dois filhos em um ataque da RSF. Um deles, Muzamil, sobreviveu com ferimentos, enquanto seu amigo morreu devido à falta de atendimento médico. A situação é descrita como um ciclo de trauma, com Suleiman afirmando que se acostumou com a morte ao seu redor. Outro relato é de Asma Mubarak Abdel Karim, que testemunhou uma mulher sendo sequestrada e estuprada por soldados da RSF, que a acusaram de apoiar o exército.

Um porta-voz da RSF negou as acusações, alegando que a área estava sob seu controle sem crimes significativos. No entanto, tanto a ONU quanto os EUA acusam ambos os lados de cometer crimes de guerra, com a RSF sendo criticada por massacres e estupros em massa. A elite da RSF abandonou seus lares em Karfuri, um subúrbio rico, que agora está deserto e saqueado. O exército acredita que a liderança sênior da RSF está fora da cidade, enquanto os combates em Cartum são travados por comandantes juniores.

Com a RSF sendo empurrada para fora de Cartum Norte, os moradores relatam um clima de relativa segurança, embora ainda enfrentem os ecos da guerra. Zeinab Osman al-Haj descreve como os combatentes invadiram sua casa, levando suprimentos e queimando o local. Hussein Abbas, um idoso deslocado, expressa sua dor ao retornar após dois anos, refletindo sobre o sofrimento que ele e outros enfrentaram. Apesar da vantagem do exército, o sofrimento da população sudanesa continua, com muitos tentando reconstruir suas vidas em meio à devastação.