02 de jun 2025
Andreas Reckwitz analisa a perda como questão central da modernidade atual
A crescente sensação de perda na modernidade ameaça a legitimidade da democracia e alimenta o populismo, alerta o sociólogo Andreas Reckwitz.
Andreas Reckwitz em Berlim, no passado 23 de abril. (Foto: Patricia Sevilla Ciordia)
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Andreas Reckwitz, sociólogo da Universidade Humboldt, destaca a perda como um tema central da modernidade em sua obra "Verlust. Ein Grundproblem der Moderne". Em entrevista, ele analisa como essa questão impacta a legitimidade da democracia liberal e alimenta o populismo.
Reckwitz observa que a crença no progresso está em declínio, gerando descontentamento na sociedade. Ele aponta que os "perdedores da globalização" enfrentam dificuldades devido à desindustrialização em países como Estados Unidos, França e Alemanha. Essa situação é especialmente visível na Alemanha Oriental, onde o populismo tem ganhado força.
Além disso, as transformações climáticas também contribuem para a deterioração das condições de vida. Reckwitz menciona que, mesmo entre as classes médias, a experiência de perda é significativa, refletindo em psicoterapias que abordam fracassos e separações. A crença na auto-otimização torna essas perdas ainda mais impactantes.
A Contradição do Progresso
O sociólogo ressalta uma contradição fundamental na modernidade: a expectativa de progresso versus a realidade das experiências de perda. Ele argumenta que, embora existam avanços em áreas como medicina e tecnologia, a percepção de perda, como a de status social e controle, é evidente.
Reckwitz também discute a individualização da sociedade contemporânea, onde cada um busca destacar sua singularidade. Essa tendência, embora positiva em alguns aspectos, resulta na fragilidade das ideias de progresso coletivo. Ele defende a necessidade de um renascimento do que é comum, apesar das dificuldades.
Consequências Políticas
O sentimento de perda, segundo Reckwitz, pode ter consequências políticas significativas. A democracia liberal, que se baseia na promessa de melhoria das condições de vida, enfrenta um problema de legitimidade quando essa promessa não é cumprida. O populismo, que se alimenta das experiências de perda, propõe um retorno a um passado idealizado.
Ele observa que a transformação de perdedores em vítimas, que culpam as elites liberais por sua situação, é um fator crucial para o crescimento do populismo. Essa narrativa oferece uma forma de reivindicação e busca por restituição.
Reckwitz conclui que é essencial reconhecer o legado do progresso e defendê-lo, pois a história ainda está em andamento. A percepção de que o futuro pode não ser melhor que o presente torna as experiências de perda ainda mais dramáticas e impactantes na sociedade atual.
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