10 de jul 2025
Trumpismo e bolsonarismo: uma análise dos laços que os unem
Trump impõe tarifas de 50% ao Brasil, reforçando laços com Bolsonaro em meio a alegações de fraude eleitoral e retórica conservadora.

Donald Trump e Jair Bolsonaro. (Foto: Alan Santos/PR)
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A relação entre Donald Trump e Jair Bolsonaro se fortalece com a recente decisão do presidente americano de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, em um gesto de apoio ao ex-presidente brasileiro. Essa medida reflete a conexão entre os dois líderes e os movimentos que os sustentam, que compartilham uma agenda conservadora.
Desde a eleição de Trump em 2016, o bolsonarismo tem buscado inspiração no trumpismo, adotando estratégias de comunicação e narrativas semelhantes, como o antiglobalismo e a desconfiança em relação ao sistema eleitoral. O cientista político da FGV, Guilherme Casarões, destaca que essa relação se desenvolveu em três etapas: emulação, articulação e internalização. Inicialmente, os paralelos eram mais orgânicos, mas com o tempo, as práticas americanas foram mimetizadas de forma estratégica no Brasil.
A conexão se intensificou após a invasão da Praça dos Três Poderes em Brasília, que ecoou a invasão do Capitólio nos EUA. Ambos os eventos foram acompanhados por acusações de fraude eleitoral e ataques ao Judiciário, refletindo uma retórica comum entre os apoiadores de Trump e Bolsonaro. David Magalhães e Odilon Caldeira Neto, do Observatório da Extrema Direita, afirmam que essa articulação se dá com o suporte de grupos internacionais que alinham narrativas locais com pautas globais.
Aprofundamento das Conexões
A relação entre os dois movimentos começou a se consolidar em 2016, quando Trump foi eleito. O guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, atuou como um elo entre as agendas políticas dos dois países, promovendo teorias da conspiração que imitavam as dos EUA. A transferência da embaixada americana em Israel para Jerusalém, apoiada por Trump, também encontrou ressonância no Brasil, especialmente entre líderes evangélicos.
Em 2018, a articulação entre os dois movimentos se intensificou, com Eduardo Bolsonaro e Filipe Martins atuando como intermediários entre as gestões. O apoio de Steve Bannon a Bolsonaro solidificou essa conexão, levando a uma estratégia mais formalizada. A Cúpula Conservadora das Américas, realizada em Foz do Iguaçu, exemplifica essa colaboração, com a presença de figuras bolsonaristas.
A pandemia de Covid-19 também contribuiu para a sedimentação das retóricas comuns, como a oposição à vacinação e ao lockdown. O uso das redes sociais como ferramenta política, inspirado em Trump, se consolidou no Brasil, resultando em um "gabinete de ódio" que disseminava desinformação.
Desdobramentos Recentes
Após a derrota de Bolsonaro em 2022, as alegações de fraude eleitoral, que já circulavam nos EUA, ganharam força no Brasil. O ex-presidente participou de eventos conservadores nos EUA, reforçando a conexão com Trump. A invasão da sede do governo em Brasília em 2023 espelhou os eventos de Washington, com Bolsonaro apoiando as alegações de fraude eleitoral.
A articulação bolsonarista culminou na recente declaração de Trump, que criticou o tratamento dado ao ex-presidente brasileiro, e na imposição das tarifas sobre o Brasil. Essa dinâmica revela como a importação de práticas trumpistas se tornou uma estratégia política no Brasil, com parlamentares adotando uma agenda alinhada ao Partido Republicano dos EUA. A liberdade de expressão e a resistência à responsabilização das big techs são temas centrais nessa relação, que continua a se desenvolver mesmo após a saída de Trump da presidência.
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