Cientista político alerta sobre aliança perigosa entre big techs e extremistas

No novo livro "A hora dos predadores", o cientista político Giuliano Da Empoli alerta sobre a aliança entre oligarcas da big tech e políticos de extrema-direita, que ameaça as democracias globais. Ele descreve essa dinâmica como uma "insurreição digital", onde as regras democráticas são distorcidas.

Da Empoli, conhecido por suas análises sobre tecnologia e autoritarismo, compara o atual cenário político a um escriba azteca diante da chegada dos conquistadores espanhóis. Segundo ele, a nova ameaça não é a pólvora, mas sim a tecnologia, que permite a construção de realidades alternativas. Os "predadores", como Donald Trump e Elon Musk, não são mais vistos como aberrações, mas como herdeiros de uma linhagem histórica que opera fora das normas.

A Nova Lógica do Poder

O autor argumenta que esses predadores atuam em um ambiente sem regras, onde a única norma é a ação que gera engajamento. Essa lógica, trazida das plataformas digitais, invade a política, fazendo com que a esfera digital imponha suas regras à democracia. Da Empoli destaca que, desde os anos 1990, figuras políticas já concediam poder ilimitado às big techs, que agora buscam uma governança algorítmica.

Ele observa que a insatisfação popular é amplificada pela tecnologia, criando um terreno fértil para que os predadores ofereçam soluções que quebram as regras estabelecidas. O caos, segundo Da Empoli, se tornou uma ferramenta de poder, paralisando adversários e capturando a atenção do público.

Desafios para a Democracia

As instituições democráticas enfrentam dificuldades em conter essa nova onda. O autor enfatiza que a conversa democrática não pode migrar completamente para a esfera digital sem exigir que esta adote princípios fundamentais, como respeito às regras e às minorias. Ele menciona iniciativas no Brasil que buscam regular o espaço digital, mas questiona se serão suficientes.

Da Empoli critica a falta de regulamentação que permitiu a criação de um ambiente caótico, alertando que a ausência de regras pode levar a uma mudança de regime. Ele conclui que, sem uma soberania digital, as democracias correm o risco de serem dominadas por esses novos "predadores".