27 de jan 2025
Mata Atlântica: regeneração e desmatamento coexistem em um cenário paradoxal
A Mata Atlântica, com apenas 14% a 30% de cobertura original, enfrenta desmatamento. Estudos recentes mostram aumento de 0,6% na cobertura vegetal entre 2005 e 2020. Novas espécies, como a cereja de guapiaçu e um sapo pulga, foram descobertas. A Lei da Mata Atlântica e o PSA contribuíram para a regeneração do bioma. Apesar do crescimento, a fragmentação dificulta a conectividade e a qualidade ambiental.
Uma família de muriquis-do-norte, espécie que corre risco de extinção. Aproximadamente um quarto de todas as espécies de fauna ameaçadas no Brasil estão na Mata Atlântica. (Foto: Godofredo A. Vásquez/AP Photo/Imageplus)
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As páginas da Historia naturalis brasiliae, publicada em 1648, revelam a riqueza e a fragilidade da biodiversidade brasileira. Escrita por Willem Piso e George Marcgraf, a enciclopédia documenta espécies que hoje estão extintas e outras que sobrevivem em números alarmantemente baixos. Os naturalistas, financiados por Maurício de Nassau, exploraram regiões como Alagoas e Pernambuco, encontrando uma Mata Atlântica já afetada pela colonização, que, segundo o brasilianista Warren Dean, havia perdido cerca de 1 mil km² até 1700.
Atualmente, a SOS Mata Atlântica estima que restam entre 14% e 30% da floresta original, com aproximadamente um quarto das espécies de fauna ameaçadas de extinção. Nos últimos vinte anos, no entanto, o desmatamento diminuiu e a cobertura vegetal cresceu 0,6%, o que equivale a 980 mil hectares. O ecólogo Maurício Vancine sugere que a Lei da Mata Atlântica, sancionada em 2006, e programas de pagamento por serviços ambientais (PSA) podem ter contribuído para essa recuperação, embora a regeneração ocorra em áreas pequenas e isoladas.
Apesar do crescimento quantitativo, a qualidade ambiental ainda é uma preocupação. Vancine alerta que a fragmentação da floresta dificulta a conectividade entre os habitats, essencial para a sobrevivência das espécies. O biólogo Vinícius Tonetti destaca que a Mata Atlântica enfrenta simultaneamente desmatamento e regeneração, com áreas em Minas e Piauí ainda sendo ameaçadas. A falta de unidades de conservação e a predominância de terras privadas complicam a recuperação do bioma, que requer uma combinação de políticas públicas e engajamento social.
A implementação do Código Florestal de 2012, que prevê o replantio de 3 milhões de hectares, enfrenta desafios, como a baixa validação dos Cadastros Ambientais Rurais. Luiz Fernando Pinto, da SOS Mata Atlântica, enfatiza a necessidade de interromper a degradação para permitir a regeneração. Recentemente, avistamentos de antas e a descoberta de novas espécies, como a Eugenia guapiassuana, indicam que a Mata Atlântica pode estar se revitalizando, embora os desafios permaneçam significativos.
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