08 de jul 2025
Coca conquista novos espaços urbanos e desafia sua imagem ancestral
Coca machucada cresce entre jovens na Bolívia, mas especialistas alertam para riscos à saúde e distorção da tradição ancestral.

Botellas de cerveza con sabor a hoja de coca en un local en La Paz, Bolivia, en 2024. (Foto: Juan Karita/AP)
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Um novo fenômeno cultural está emergindo na Bolívia: a coca machucada, uma versão industrializada e saborizada da tradicional folha de coca. Este produto, que ganhou popularidade entre os jovens, já conta com mais de 300 marcas no mercado, gerando preocupações sobre a saúde e a perda do valor simbólico da prática ancestral.
Historicamente, a folha de coca é utilizada há mais de 3.000 anos nos Andes, sendo considerada patrimônio cultural imaterial da Bolívia desde 2016. O acullico, ou mascado da coca, é uma prática que remonta a tempos antigos, associada a rituais e benefícios à saúde, como aumento de energia e resistência. No entanto, a coca machucada, que combina a folha com saborizantes artificiais e bicarbonato de sódio, tem sido vista como uma distorção dessa tradição.
A antropóloga Alison Spedding, membro da Associação Departamental de Produtores de Coca, explica que a coca machucada libera os alcaloides mais rapidamente, mas levanta questões sobre a qualidade dos ingredientes utilizados. Críticos, como a socióloga Sdenka Silva, alertam que a mistura pode conter saborizantes de baixa qualidade, prejudicando a saúde dos consumidores.
Além disso, especialistas em saúde, como o médico Alejandro Enríquez, apontam que o uso de bicarbonato e saborizantes pode estar relacionado ao aumento de casos de câncer de boca, que subiu 2,6% em 2023. Apesar da controvérsia, a coca machucada se espalhou rapidamente, com mais de 2.000 pontos de venda em Cochabamba, oferecendo até 92 sabores diferentes.
A produção de coca no país continua a crescer, com 31.000 hectares cultivados e 5.000 produtores ativos, gerando empregos para mais de 130.000 famílias. A nova popularidade da coca machucada reflete uma mudança nas percepções sociais sobre a folha, que, apesar de sua estigmatização, continua a ser um elemento central da cultura boliviana.
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