10 de abr 2025
Cientistas criam minisistema nervoso humano capaz de detectar dor em laboratório
Minisistema nervoso humano criado em laboratório pode revolucionar o entendimento da dor e do autismo, segundo pesquisa publicada na Nature.
Uma das estruturas de dois centímetros criadas no laboratório de Sergiu Pasca: quatro milhões de células humanas, capazes de transmitir um estímulo doloroso. (Foto: Pasca lab/Stanford Medicine)
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Santiago Ramón y Cajal, um espanhol de trinta e nove anos, revolucionou a neurociência em mil oitocentos e noventa e um ao demonstrar que o cérebro é composto por neuronas individuais, desafiando a ideia de uma rede contínua. Mais de um século depois, o médico Sergiu Pasca, aos quarenta e três anos, criou um minisistema nervoso humano em laboratório, capaz de detectar dor, utilizando células reprogramadas. Seus achados foram publicados na revista Nature, marcando um avanço significativo na pesquisa sobre dor e autismo.
Pasca reprogramou células da pele de voluntários, transformando-as em neuronas que se organizaram em estruturas chamadas assembloides. Em dois anos, ele conseguiu conectar diferentes tipos de células, formando circuitos que simulam o movimento voluntário. O novo sistema nervoso, que possui quatro milhões de células, é descrito como uma "salchicha" de dois centímetros, capaz de transmitir estímulos dolorosos. Pasca destacou a importância de entender a biologia do dor crônica, que afeta cerca de um quarto da população.
Os pesquisadores utilizam substâncias como a capsaicina, presente em pimentas, para induzir a sensação de dor nos assembloides. Embora o sistema de Pasca não possua células de regiões chave do cérebro, como a amígdala, ele acredita que essas estruturas podem ajudar a entender melhor os transtornos do espectro autista, que frequentemente envolvem hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Pasca planeja introduzir mutações genéticas associadas ao autismo nos assembloides para investigar como elas afetam os circuitos neurais.
O neurobiólogo Félix Viana, que não participou do estudo, elogiou a inovação técnica, mas expressou ceticismo quanto à capacidade dos assembloides de reproduzir a complexidade da dor humana. Ele ressaltou que a dor é uma experiência subjetiva e que, apesar do potencial dos assembloides para testes preliminares de medicamentos, sua aplicação prática pode ser limitada no curto prazo. Pasca, por sua vez, continua a explorar as possibilidades de seus assembloides para abordar questões neurológicas complexas.
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